Formada em teatro, a Shadiyah Becker, de 23 anos, sempre trabalhou informalmente. Hoje, ela ganha a vida fazendo entregas de bicicleta. Não tem salário fixo, nem benefícios, como plano de saúde ou vale refeição. Embora nunca tenha sonhado em ter um emprego com carteira assinada, ela está a procura de um trabalho que possa dar mais estabilidade a ela. “O trabalho de bike é muito cansativo. Eu chegava em casa depois do trabalho e não conseguia fazer mais nada. Então queria pegar um trabalho que eu tivesse mais energia para estudar, para investir mais na minha carreira.
Assim como a Shadiyah, mais de dois terços do jovens têm emprego considerado de baixa qualidade. É o que mostra um levantamento feito pela consultoria IDados. Isso significa que, de cada dez trabalhadores com até 24 anos de idade, quase oito trabalham em situação de vulnerabilidade. Em números absolutos, o número representa 7,7 milhões de brasileiros. Para considerar se um emprego é de má qualidade ou não, foram analisados quatro aspectos: salário, estabilidade, rede de proteção, como INSS, e condições de trabalho. Os empregos dos jovens apresentam fragilidades em todos esses aspectos, mas os piores são renda e estabilidade.
O economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e responsável pela pesquisa, explica por que os jovens têm mais dificuldade em ingressar no mercado de trabalho. “Isso tem relação com falta de experiência do jovem, acabou de ingressar no mercado de trabalho, muitas vezes ainda estão estudando, não terminaram sua escolaridade”, diz. Ele afirma que esse não é um problema exclusivo do Brasil, mas diz que é agravado no país por causa da falta de informação e de suporte concedidos aos jovens. “Em outros país, a gente sabe que os jovens, enquanto estão na escola, têm maior orientação vocacional. A própria escola procura ajudar os jovens, orientá-los a respeito do mercado de trabalho e ajudá-los na tomada de decisão sobre que carreira seguir, por que seguir naquela carreira. No Brasil a gente faz isso muito mal.”
Fonte: Jovem Pan