À primeira vista, a pandemia de coronavírus parece feito o número de atentados pelo mundo diminuírem. Além do fechamento das fronteiras ter dificultado o deslocamento de possíveis terroristas internacionais, as medidas de lockdown tornaram os espaços públicos menos “atrativos” para esse tipo de ataque. No entanto, a crise causada pela Covid-19 pode ter deixado os jovens expostos à radicalização em um momento em que os governos estão mais preocupados com questões sanitárias. Segundo um relatório feito pelo Instituto para Economia e Paz (IEP), o “Global Terrorism Index”, os grupos terroristas podem ter aproveitado o ano de 2020 para recrutar membros. O Estado Islâmico, por exemplo, lançou um comunicado formal no início da pandemia pedindo por novos integrantes, além de ter orientado os seus atuais membros a aproveitarem que as autoridades “baixaram a guarda” para fazer atentados. Enquanto isso, a Al-Qaeda sugeriu que os ocidentais deveriam usar a quarentena para se converterem ao islamismo. De uma maneira geral, o número de atentados terroristas já vinha diminuindo ao longo dos últimos cinco anos. No entanto, foi possível notar que 2020 marcou uma mudança no tipo de ataques ocorridos em países europeus. Os dados do IEP indicam que entre 2014 e 2019 houve um aumento de 250% nos incidentes envolvendo grupos de extrema-direita. Nos últimos meses, no entanto, os atentados de motivação religiosa foram maioria na Europa. Em 2019, a imprensa internacional classificou como “ataques terroristas” sete incidentes ocorridos no continente europeu, sendo que três foram motivados pelo radicalismo islâmico. Em 2020, foram dez atentados no total, sendo seis por esse motivo. O primeiro desses ataques aconteceu antes mesmo do início da pandemia de coronavírus, em 2 de fevereiro, no Reino Unido. Na ocasião, duas pessoas foram esfaqueadas em Londres por Sudesh Amman, que já tinha sido preso por divulgar materiais terroristas no passado.
Houve um relativo período de paz até o dia 25 de setembro, quando duas pessoas foram esfaqueadas nos arredores da redação da revista satírica Charlie Hebdo, em Paris – a mesma que já tinha sido alvo de um tiroteio em 2015. Nos dois casos, os autores dos crimes estavam vingando as charges de Maomé que foram publicadas pelo veículo. A representação imagética do profeta voltou a motivar um atentado terrorista na França no dia 16 de outubro, quando o professor Samuel Paty foi decapitado depois de mostrar as tais charges aos estudantes em uma aula sobre liberdade de expressão. Dessa vez, chamou atenção o fato do crime ter sido orquestrado principalmente por meio das redes sociais, aumentando assim o alerta sobre a atuação virtual dos grupos terroristas. Por esse motivo, o presidente francês Emmanuel Macron tomou medidas para aumentar a fiscalização das atividades nas redes e expulsar os muçulmanos ilegais que são suspeitos de radicalismo. Porém, ele também emitiu ordens que desagradaram parte da comunidade islâmica, como a investigação e o fechamento de mesquitas.
Depois disso, a França viveu um verdadeiro dia de horror em 29 de outubro. Em um intervalo de poucas horas, houve um atentado à faca na Basílica de Nice, a prisão de um homem suspeito que portava uma lâmina em Lyon e a morte de outro indivíduo que ameaçou pessoas com uma arma em Avignon, além de um ataque ao consulado francês na Arábia Saudita. “A França está sob ataque”, chegou a afirmar o presidente Emmanuel Macron na ocasião. Desde então, o país europeu não reportou novos incidentes em seu território, mas em novembro, o Estado Islâmico lançou bombas em um evento na Arábia Saudita que contava com a presença do cônsul francês, entre outros diplomatas europeus. Nesse ínterim, outros países da Europa viviam momentos de tensão. No dia 4 de outubro, dois homens homossexuais foram esfaqueados em Dresden, na Alemanha, por um refugiado sírio que teria ligações com o Estado Islâmico. Outro simpatizante desse mesmo grupo terrorista começou um tiroteio que deixou quatro mortos e 23 feridos em Viena, na Áustria.
Fonte: Jovem Pan