Cancelamento de Carnaval de rua leva ao desespero instrumentistas e ambulantes em Pernambuco

Maestro Carlos toca no Homem da Meia Noite, evento que abre o Carnaval de Olinda há 28 anos

As ladeiras vazias de Olinda (PE) no mês de janeiro denunciam que algo está fora da normalidade. A cidade costuma abrir as portas para foliões já em setembro, quando as prévias carnavalescas se iniciam. Semanalmente, o caldo de gente vai engrossando até chegar ao ápice. Só em 2020, 3,6 milhões de pessoas passaram pelo local nos quatro dias de festa, número nove vezes maior do que o dos 400 mil habitantes da cidade-irmã de Recife. As casas, alugadas para turistas, ficam empilhadas de colchões; as ruas, tal qual coração de mãe, vão aceitando quantos chegarem. O mar de gente parece inavegável, mas sempre cabe mais um. Nele, há os que curtem a festa e os que trabalham arduamente, gerando renda milionária para a cidade. A aglomeração, algo terminantemente proibido durante a pandemia do novo coronavírus, traduz o Carnaval de Pernambuco, que não tem data para ser realizado em 2021. O prejuízo de toda a rede de consumo por trás da folia afeta não só quem tem uma renda extra nos quatro dias de feriado, mas também os que têm toda a vida baseada em fazer a festa acontecer.

Como o primeiro caso de Covid-19 foi registrado no Brasil no fim do Carnaval de 2020, o maestro Carlos Rodrigues, de 55 anos, que há mais de 28 dirige a Orquestra Armação Musical, do bloco Homem da Meia Noite, demorou a se preocupar. Com o dinheiro arrecadado no período de maior movimento, ele tinha reserva para pagar contas por cinco meses, o suficiente para retomar os ensaios e assumir a regência em outras festas no meio do ano. Com o agravamento da crise sanitária, o maestro foi contaminado pelo vírus e os contratos de professor de música que ele assumira em escolas municipais foram cancelados. “O dinheiro ia acabando, eu me cuidando para não pegar de novo a doença e eu ia continuando. Ficou sem aparecer apresentação para nós”, recorda. Além dele, pelo menos outros 55 músicos trabalham na orquestra. Desses, cerca de 25 dependem exclusivamente da música. Todos, além do auxílio emergencial, precisaram de ajuda independente de outros blocos para poder arcar com as dívidas ao longo de 2020.


Fonte: Jovem Pan

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