Após governar o Chile entre 2010 e 2014, Sebastián Piñera assumiu um segundo mandato em 2018 e viu o país entrar em convulsão social com protestos iniciados pelo preço da passagem de metrô, que logo evoluíram para grandes manifestações, com uma série de pedidos. Entre eles, estava a mudança da Constituição do país, uma herança dos tempos ditatoriais de Augusto Pinochet. Os desgastes dos violentos protestos se somaram ao caos mundial da pandemia da Covid-19 e a um recente escândalo envolvendo o nome da família dele na venda de empresas offshores, que gerou um pedido de impeachment mesmo às vésperas de uma eleição marcada para 21 de novembro. Com isso, Sebastián Sichel, candidato de centro-direita indicado pelo governista, apresenta pouca popularidade nas urnas. Uma das últimas pesquisas feitas pelo Instituto Caden mostra o político com 12% das intenções de voto nas urnas, abrindo margem para outros candidatos de pensamentos menos centristas.
O professor do departamento de relações internacionais da PUC-SP, Tomaz Paoliello, lembra que, apesar da diminuição do apoio a Piñera, não é atípico que os poderes se alternem entre esquerda e direita no Chile. “O fato dele não conseguir eleger um sucessor não está muito fora da tendência recente. Seria esperado que, agora, a gente tivesse uma transição para um governo à esquerda. Tradicionalmente, era o Partido Socialista, um bloco de centro-esquerda. Mas tudo indica que será Boric, outro candidato da esquerda”, analisa. Enquanto o nome apontado pelo governo tenta buscar o segundo lugar em meio a escândalos, o líder nas intenções de voto, o deputado Gabriel Boric, tem 26% nas pesquisas. O segundo colocado, o ex-deputado José Antonio Kast, acumula 17%.
“O Chile está em uma tendência de ter o segundo turno dos extremos: o Boric, na extrema esquerda, e o Kast, na extrema direita”, analisa Marcelo Balloti Monteiro, professor do curso de ciências econômicas da Universidade Anhembi Morumbi. Ele explica que, mesmo que o representante da esquerda tenha vencido o comunista Daniel Jardue nas eleições primárias, passou a fazer coligações e traçar uma caminhada que o enquadra em uma área mais polarizada no país. “Ele era do movimento estudantil, é alguém que esteve presente nos protestos de 2019, então é um cara muito ligado a uma esquerda mais radical, que a gente ainda vê em alguns países aqui da América Latina. O Kast é totalmente oposto, é da extrema direita. Embora não tenha falado muito sobre o Pinochet, nas eleições passadas ele afirmou que o Pinochet votaria nele se estivesse vivo. Então, pode ser considerado da extrema direita”, complementa. O segundo colocado nas pesquisas, lembra o professor, já teceu elogios ao ex-presidente dos EUA Donald Trump e ao próprio Jair Bolsonaro.
Fonte: Jovem Pan