Segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 26 milhões de pessoas perderam os seus empregos na América Latina durante o último ano. O resultado está diretamente relacionado à pandemia do novo coronavírus, que gerou uma recessão econômica sem precedentes na região. As últimas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) estimam uma contração do PIB de -7% no ano passado, o que para a Comissão Econômica da América Latina (CEPAL) representaria o maior encolhimento de que se tem registro. Não há dúvidas de que a crise econômica causada pela Covid-19 teve impacto mundial, mas a OIT considera que a América Latina foi a região mais afetada, principalmente por se tratarem de nações emergentes. “A pandemia escancarou os principais problemas e paralisou economias que já estavam fragilizadas”, analisa o professor Walter Franco, que leciona macroeconomia no Ibmec.
Os efeitos de um índice de desemprego tão significativo já são conhecidos: alta informalidade, baixa renda, desigualdade social, pobreza e criminalidade. Além disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou no final do ano passado que a pandemia pode levar a América Latina a uma crise de fome de proporções inéditas nas últimas três décadas. Antes do início do surto da Covid-19, a região possuía 47,7 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, sem acesso sequer a uma cesta básica de alimentos. Agora, outras 28 milhões de pessoas podem entrar para a lista, o que faria com que os números se igualassem aos registrados em 1990. A falta de seguridade social, que já era característica da região, pesa nesse sentido. “Não há na América Latina uma assistência ao desemprego como se tem na Europa, então o trabalhador fica fragilizado e até impedido de voltar a se inserir no mercado, já que é preciso gastar dinheiro com transporte, alimentação e impressão de currículos para sair na rua e procurar uma vaga”, ilustra Franco.
Nesse sentido, o combate à pandemia do novo coronavírus é crucial para que o mercado de trabalho se recupere. “Uma forma dos países emergentes combaterem o desemprego é através do crescimento econômico que, por sua vez, só vai acontecer quando superarmos a crise sanitária. Logo, a melhor política econômica para a criação de empregos hoje é a vacinação“, defende Joelson Sampaio, professor de economia da FGV. A maior prova disso, segundo ele, é o fato de que os países que imunizaram a sua população mais rápido foram também os que reabriram as suas economias primeiro. No caso da América Latina, ele destaca que o Chile parece ter conseguido uma resposta mais efetiva à pandemia. No entanto, o processo de recuperação do mercado de trabalho deve ser longo. “Sempre falamos que o emprego é a última variável a sair da crise. Tudo vai depender do crescimento do PIB e da retomada da confiança dos agentes econômicos”, ressalta Sampaio. Walter Franco, do Ibmec, concorda com esse ponto de vista. “O empresário observa as condições do mercado para que ele invista e gere emprego. Então o que será determinante daqui para frente é o grau de confiança que as políticas de combate à Covid-19 darão ao investidor”, completa.
Fonte: Jovem Pan