A escassez de chuva dos próximos anos obrigará o Brasil a pensar em alternativas à produção de energia e de água. As vazões necessárias para gerar eletricidade começaram a diminuir há uma década e o quadro dificilmente será revertido. De acordo com especialistas, os reservatórios, que vem recebendo menos precipitações, podem não dar conta da demanda já em 2021. O professor de Hidrologia e Recursos Hídricos da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo, sugere medidas para a ampliação do armazenamento. “Precisaríamos construir reservatórios de regularização. Grandes reservatórios acumuladores de água para que ela fosse consumida no período seco, mantendo certa regularidade na produção de energia. Hoje, não temos isso porque nas hidrelétricas construídas a partir da década de 80, devido à restrição ambiental, é praticamente proibitiva a construção desses reservatórios de regularização e na falta deles não temos segurança energética”, pontua Zuffo. Ele lembra que 60% da produção vem de hidrelétricas e que as térmicas são mais poluentes e caras.
Projeções do Operador Nacional do Sistema (ONS) indicam que a maior parte dos reservatórios brasileiros estará com menos de 10% do volume útil em novembro. Furnas, por exemplo, apresenta atualmente 28% da capacidade de armazenamento. O diretor-presidente da central elétrica, Clóvis Torres, não esconde a preocupação. “Infelizmente, estamos em níveis mínimos e nos preocupa muito. Se o reservatório está muito baixo, as turbinas correm risco e a vibração das turbinas coloca em risco a usina, que consequentemente, em um pior cenário, teria que ser parada. A preocupação dos representantes daquela região, dos demais parlamentares de Minas Gerais, é uma preocupação de Furnas também”, comenta. Clóvis Torres espera que uma MP em tramitação no Congresso favoreça a liberação de verbas ao setor. O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Ciocchi, defende um debate intenso em busca de soluções.
“Temos uma chuva abaixo da média para toda essa bacia do Rio Grande, isso é um sinal preocupante para o setor elétrico. Em alguns outros momentos a gente vai ter que ter essa reflexão sobre o regime hidrológico dessas nossas bacias para termos as condições necessárias para o atendimento, não só da energia elétrica, mas também de todos os outros recursos”, disse. Em meio a preocupação de Luiz Ciocci, a Agência Nacional de Águas (ANA) vem tomando providências na região de Furnas. A presidente da entidade, Christianne Dias Ferreira, acrescenta que o monitoramento é diário. “Já estamos atuando e monitorando a questão desde o ano passado. Tivemos uma resolução de Furnas, que expirou no final do mês de maio, também no sentido de fazer uma acumulação desse reservatório. Então a gente vem atuando em atendimento aos usos múltiplos. De certa forma revelar como a Ana vem trabalhando, atendendo a legislação que nos rege de atender o uso múltiplo e a política de uso de recursos hídricos”, afirmou. Apesar dos alertas do Operador Nacional do Sistema e da ANA, o governo federal descarta racionamento neste ano. No entanto, segundo o Ministério de Minas e Energia, o Brasil enfrenta o período mais seco dos últimos 91 anos.
Fonte: Jovem Pan