Pão, rosbife frio, tomate em rodelas, pepino em conserva e um mix de queijos fundidos. Parece uma combinação simples, mas tem muita história nessa receita. O tradicional sanduíche bauru, que virou patrimônio cultural imaterial do Estado de São Paulo nasceu no restaurante Ponto Chic. A ideia foi de Casemiro Pinto Neto, então estudante de direito que frequentava o local após as aulas. Ele foi no balcão e pediu diretamente ao chapeiro que preparasse uma receita que encontrou em um livro de culinária. Só em 2019 o Ponto Chic vendeu cerca de 140 mil baurus. O restaurante localizado no Largo do Paissandu e responsável pela popularização do sanduíche completou 100 anos neste 24 de março.
O proprietário, Rodrigo Alves, que faz parte da quarta geração da família à frente do estabelecimento, contou como o bauru se popularizou. “Casemiro Pinto Neto. Ele veio da cidade de Bauru, então todos chamavam eles de bauru. Ele se inspirou num livro de nutrição que estava lendo na época para fazer um sanduíche que representasse uma refeição completa. Na hora que ele foi comer, passou um amigo da faculdade, experimentou metade do sanduíche e logo disparou: ‘me vê um desse aqui do bauru’. E aí pegou, todo mundo queria experimentar o tal sanduíche do bauru”, revelou.
Anos depois de Bauru ter a ideia do sanduíche, o advogado começou uma carreira no jornalismo, se tornando o primeiro repórter Esso de São Paulo e com passagens pela Rádio Panamericana e pela TV Record. Rodrigo Alves ressaltou o entrelaçamento entre as histórias da capital paulista e do restaurante da família. “Grande honra de ter um ponto tão ligado à história de São Paulo e chegar aos 100 anos de atividade. Foi aberto logo depois da Semana de Arte Moderna, então todos os acontecimentos da cidade passaram por aqui. Adoniran Barbosa, Diretas Já, muita discussão aqui dentro, do Fernando Henrique, do Mário Covas, o que não falta é história para contar, Revolução de 1932, até as duplas sertanejas, Chitãozinho e Xororó, Milionário e José Rico formaram a dupla aqui dentro”, contou.
E não foram só as chapas que esquentaram no último século de história do Ponto Chic. O proprietário Rodrigo Alves contou que o local foi um importante polo de discussões durante a Semana de Arte Moderna, que assim como o restaurante completou um século neste ano. “Abriu um mês depois da Semana. Todos os intelectuais começaram a frequentar aqui o Ponto Chique. Tanto que abriu sem nome, mas como tinha instalações muito refinadas, mármore de carrara, azulejos franceses, Oswald Andrade deu o apelido de ‘ah, vamos naquele lugar chique’. Daí veio Ponto Chic e já logo foi para a fachada, o nome. E brigas homéricas [aconteceram aqui] entre Monteiro Lobato e Mário de Andrade, um defendendo a Semana, o modernismo, o outro conservador”, falou Alves. Além dos 100 anos de atividade ininterrupta no Largo do Paissandu, o Ponto Chic também conta com unidades em Perdizes, Paraíso e Brooklin. Sendo que a última e mais recente está voltada para o delivery.