As candidaturas coletivas – modelo de possível mandato em que um indivíduo se compromete a compartilhar decisões com uma rede de colaboradores – apareceram timidamente nas urnas brasileiras em 2016, se popularizaram no pleito eleitoral de 2018 e ganharam terreno na vereança da cidade de São Paulo nas últimas eleições. No ano de 2020, dois dos 55 nomes eleitos à Câmara Municipal da cidade mais populosa do Brasil são formados por coletivos: o Quilombo Periférico, com ativistas do movimento negro nas periferias da cidade, e a Bancada Feminista, grupo que defende a pluralidade das pautas voltadas para mulheres. Além das jornadas de militância e de serem filiados ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), os grupos têm em comum o desejo de ocupar o Legislativo com corpos e pautas diferentes das habituais. Nas eleições que venceram, as candidaturas coletivas tentam engrossar as baixas estatísticas que mostram uma casa composta por 24% de mulheres e 20% de pessoas pretas ou pardas diante de uma cidade formada por 52,4% de população feminina e 35,3% de negros.
Apesar de não seguir uma “regra legal”, as candidaturas coletivas funcionam na prática como qualquer outra, tendo direito a um voto nas pautas da Câmara Municipal. Nos bastidores, porém, elas são formadas por um grupo de pessoas, alocadas em cargos oficiais dentro dos gabinetes, que delibera sobre as decisões. No caso do Quilombo Periférico, o grupo é formado por seis pessoas; na Bancada Feminista, por cinco. Todos os cargos ocupados dentro do gabinete pelos co-vereadores são de funções já existentes, que provavelmente seriam preenchidos por assessores comissionados indicados pelo candidato eleito. “Nós cinco vamos trabalhar presencialmente. A Silvia [Ferraro], que foi a pessoa escolhida para ser a representante no parlamento, é quem vai proferir os votos, quem vai estar presente nas sessões junto com alguma de nós. Eu não sei se todo mundo sabe, mas o parlamentar pode estar sempre com um assessor junto dele nas sessões, então vamos fazer um rodízio. Mas todas nós estaremos sempre no gabinete da Bancada Feminista”, explica a co-vereadora Dafne Sena em entrevista à Jovem Pan.
Fonte: Jovem Pan