Atrasos na vacinação, imunizantes congelados e vacinas vencidas são alguns dos obstáculos que envolvem a imunização contra a Covid-19 no Brasil. Agora, as secretarias de saúde, bem como os órgãos de fiscalização, enfrentam um novo desafio: os casos de pessoas que tomaram uma terceira dose das vacinas. Entre os registros fraudulentos está o da veterinária Jussara Sonner, moradora de Guarulhos, que compartilhou nas redes sociais uma foto do comprovante do reforço na vacinação. Na mensagem, ela afirmou que já havia tomado duas doses da CoronaVac, mas se sentia incomodada por ter tomado a “vachina” e, por isso, procurou um posto de saúde na capital paulista para burlar o sistema. “Esperei o tempo necessário – 3 meses – e hoje consegui tomar a Janssen. Me sinto mais protegida e com dose única estou liberada para viajar para onde quiser”, disse em publicação nas redes sociais. Após a repercussão, tanto a Prefeitura de Guarulhos quanto de São Paulo anunciaram que vão investigar o episódio. Outros casos semelhantes também aconteceram na capital paulista e envolveram dois profissionais da saúde. Assim como a veterinária, após já terem recebido duas doses da CoronaVac, dois médicos procuraram unidades de saúde em São Paulo sem sistema vinculado à internet para receber um terceiro reforço vacinal.
Longe de ser uma exceção de São Paulo, os episódios de pessoas tomando uma terceira dose das vacinas se espalham por todos os Estados brasileiros. Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Estatística e Ciência dos Dados da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em parceria com o Centro de Matemática Aplicada à Indústria da Universidade de São Paulo, aponta que 29.570 pessoas já teriam tomado a terceira dose das vacinas no Brasil até o dia 24 de junho. Intitulado de ModCovid-19, o estudo considera dados oficiais do Ministério da Saúde, disponíveis pelo sistema OpenDataSUS, e mostra brasileiros que teriam recebido, inclusive, uma quarta aplicação dos imunizantes. Esse é o caso de um morador de Ouricangas, na Bahia. Outro registro semelhante aconteceu na cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo, onde um morador teria recebido reforços indevidos. Embora sejam dados preocupantes, não é descartada a hipótese de que possa existir uma falha nas informações, uma vez que o sistema tem apresentado inconsistências.
Em meio à repercussão dos casos, prefeituras e órgãos de controle, como o Ministério Público, iniciam ações para identificar as ocorrências, aparar lacunas no sistema e evitar novos episódios. Porém, com falhas de atualização e brechas tecnológicas, a dúvida persiste: Como evitar novas fraudes que atrasam ainda mais a imunização e a saída do país da pandemia? O Estado de São Paulo adotou, por meio da Secretaria da Justiça e Cidadania, a criação de uma Comissão Especial Integrada para investigar as denúncias. Por sua vez, a prefeitura da capital paulista informou à Jovem Pan que o jurídico da Secretaria Municipal da Saúde está analisando as denúncias envolvendo a veterinária e os dois médicos e que “constatada alguma infração, serão adotadas as devidas providências”. “É aberta uma apuração e as conclusões são levantadas ao Ministério Público e aos órgão de classe”, diz o comunicado. Ao mesmo tempo, o MP-SP apura 55 denúncias de fraudes, sendo 22 investigações criminais e 33 cíveis.
Fonte: Jovem Pan