Em busca de um partido para chamar de seu, Bolsonaro enfrenta resistência no PP

Aliado de Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira foi alçado ao posto de ministro-chefe da Casa Civil

Apesar da negociação para uma possível filiação ao Progressistas, o nome do presidente Jair Bolsonaro enfrenta resistência de alguns segmentos da legenda. Lideranças da sigla ouvidas pela Jovem Pan temem que o chefe do Executivo federal queira “mandar no partido”. Embora avaliem que a ida de Bolsonaro possa ser positiva, sobretudo em um cenário no qual o presidente pode eventualmente ser reeleito, parlamentares citam o fato do mandatário do país afirmar que quer uma legenda para chamar de sua. Em entrevista à Rádio Grande FM, de Mato Grosso do Sul, no fim de julho, o chefe do Executivo federal disse que quer ter “o domínio do partido”. “Tentei e estou tentando um partido que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o domínio do partido. Está difícil, quase impossível”, afirmou há duas semanas.

Novo presidente nacional do partido, o deputado federal André Fufuca (PP-MA) diz que a negociação de Bolsonaro com a legenda é um “projeto embrionário”. Ele avalia, no entanto, que as tratativas ganham força com a ida do senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-comandante do PP, para a Casa Civil, o ministério mais importante do governo federal – o próprio Bolsonaro afirmou que entregou “a alma do governo” ao líder do Centrão. “Na Casa Civil, o senador Ciro terá relação diária com a Presidência, os laços se estreitam. A vinda do presidente acarretaria aumento do partido em seu projeto eleitoral”, disse Fufuca à Jovem Pan. Reservadamente, porém, correligionários de Fufuca defendem que o Progressistas use a fatia do fundo eleitoral a que tem direito priorizando a expansão das bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal – atualmente, a sigla tem 41 deputados e sete senadores. Considerando o valor de R$ 5,7 bilhões do Fundão, aprovado pelo Congresso antes do recesso parlamentar, o partido receberia cerca de R$ 384 milhões, segundo cálculos de consultores legislativos do Senado. “Temos duas situações, uma do presente e outra pensando neste futuro hipotético. Hoje o partido mira o crescimento da bancada, o crescimento do partido. Somos o terceiro maior partido do país e temos a perspectiva de crescer, nos tornarmos o primeiro do país em 2022. Mas é claro que, se Bolsonaro vier, a prioridade passa a ser a eleição do presidente, sem dúvidas. Mas não tem como fazer uma projeção faltando mais de um ano para o pleito”, pondera o novo presidente do PP.

As principais resistências ao chefe do Executivo vêm do Nordeste. Na Bahia, por exemplo, o vice-governador, João Leão, deputado federal por cinco mandatos, é filiado ao PP. O governador baiano é Rui Costa, do PT. No Ceará, a legenda é presidida pelo deputado federal AJ Albuquerque, filho de Zezinho Albuquerque, atualmente filiado ao PDT e aliado histórico dos irmãos Ciro e Cid Gomes. O Estado é comandado pelo governador Camilo Santana, também do PT. Neste cenário, os pepistas avaliam que é “praticamente impossível” que o comando dos diretórios regionais seja transmitido para o clã Bolsonaro. Há, porém, um aspecto que pode beneficiar o presidente da República: tradicionalmente, as alianças locais não interferem nos acordos costurados a nível nacional. Ou seja, ao mesmo tempo em que compõe a base aliada do governo federal no Congresso Nacional – o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PP-PR), são da legenda –, o Progressistas se alia a partidos de oposição ao Palácio do Planalto em outros Estados.


Fonte: Jovem Pan

Comentários