Extrema direita cresce na Argentina; conheça o novo político alinhado às ideias de Bolsonaro e Trump

Candidato Javier Milei ganhou notoriedade nas urnas mesmo sem passado político

Os cabelos naturalmente bagunçados somados a roupas formais e frases de efeito reproduzidas nas redes sociais são algumas das características que dão ar populista e tornam a figura do economista Javier Milei marcante na Argentina. Aos 50 anos de idade e sem qualquer tradição na política do país, ele, que já vinha ganhando as redes sociais por polêmicas e opiniões radicais contra candidatos tradicionais, despontou nas eleições primárias conquistando o terceiro lugar das urnas para deputado de Buenos Aires, reduto da atual vice-presidente Cristina Kirchner, com mais de 13% dos votos, surgindo como uma “terceira opção” aos que querem fugir do bipartidarismo habitual. No Instagram, com quase 900 mil seguidores, Milei reproduz denúncias e críticas aos concorrentes, promove seu curso de economia e reproduz a frase de efeito “Viva à liberdade, caral***”. Conquistando não apenas uma multidão de conservadores mais velhos como também jovens que acabaram de ganhar o direito ao voto no país, acendendo o alerta para a chegada da onda ultradireita em mais um país da América Latina.

Mesmo que Javier Milei não se autoconsidere como de ultradireita, afirmando ser apenas um liberal, os especialistas ouvidos pela Jovem Pan apontam que o candidato apresenta posicionamentos clássicos do extremo conservadorismo. De acordo com Paulo Velasco, professor adjunto de Política Internacional da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, pelo menos três características da extrema direita podem ser notadas no economista: a postura antipolítica, com uma retórica que classifica a maioria dos candidatos como corruptos e aproveitadores em busca dos próprios interesses; a agenda conservadora ligada à moral e aos bons costumes, sendo contra pautas progressistas como o aborto; a defesa de um ajuste macroeconômico com uma reforma ainda pouco explicada à população. “Ele fala em reforma, mas ninguém sabe muito bem qual seria a mágica que ele levaria a cabo em termos de reforma. Ele diz que não vai colocar [as mudanças] na conta da sociedade, o que é irreal, porque a corda sempre acaba estourando para o lado do cidadão”, avalia o docente.

A professora Regiane Nitsch Bressan, da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também cita como sinais característicos de Milei as retóricas de defesa da liberdade e do direito à propriedade privada, falas que são pontos em comum entre o candidato e outros políticos enquadrados na área da extrema direita, como Jair Bolsonaro e Donald Trump. Os desejos de dissolução do Banco Central, da diminuição no número de parlamentares no país e da redução do salário de burocratas e pessoas da classe política também são outras marcas registradas do candidato, assim como a vontade de cortar ligações com países tido por muitos como ditaduras da esquerda na América Latina. “Ele quer romper totalmente o apoio a determinados países da região, como Cuba, Nicarágua e Venezuela, sobretudo a Venezuela, com quem a Argentina manteve um apoio enquanto Colômbia, Chile e Brasil já se afastaram muito”, afirma. O professor da UERJ lembra, porém, que as características de Milei não são comuns à democracia argentina, mas, por outro lado, não são novidade no mundo. “Ele reflete muito do que vimos na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil como sendo mais à direita. Não é a direita tradicional argentina, como a União Cívica Radical ou mesmo como parte do Peronismo. Ele também não reflete a direita do Macrismo, ou a direita dos anos 1990, na época do presidente Menem. É algo muito mais à direita do que isso”, explica.


Fonte: Jovem Pan

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