Nas últimas semanas, um novo brinquedo ganhou a atenção das crianças: o Pop It, também conhecido como Stim Toy, Fidget Toy ou Squeeze Ball. Feito de plástico, o jogo sensorial promete reduzir os níveis de ansiedade, melhorar a concentração e o raciocínio lógico dos usuários, além de auxiliar no desenvolvimento de crianças e adolescentes. “Ótimo exercício para aquecimento cerebral, prevenção da degeneração do cérebro e alívio da tensão e do estresse“, diz anúncio em um site de venda. Com essa promessa, após ganhar as redes sociais e se tornar um fenômeno no Tiktok, o Pop it invadiu de lojas infantis a comércios populares. Na 25 de março, uma das principais ruas comerciais de São Paulo, por exemplo, o brinquedo de silicone é tendência: virou capinha de celular, chaveiro e peças de formatos variados, como unicórnio, borboleta, picolé, heróis e até escudos de times de futebol. Assim, o Fidget Toy rompeu as barreiras do universo online e infantil e, agora, já é objeto de desejo dos adultos.
“Comprei para o meu afilhado, mas abri para ver como era e, do nada, não quis soltar o brinquedo. Lembra muito estourar bolhas de plástico. Quero comprar para mim, porque acho que em momentos de estresse pode ajudar mantendo a concentração”, conta Ariany Silva, de 26 anos, que trabalha com recursos humanos e disse ser muito ansiosa e estressada. Mas será que um simples brinquedo de plástico pode influenciar na inquietação e na concentração das pessoas? A psicóloga Vanessa Gebrim conta que o uso de peças antiestresse é adotado por profissionais durante a terapia de pessoas com déficit de atenção e quadros de ansiedade, por exemplo. Segundo ela, estudos mostram que a interação manual com os objetos sensoriais pode aliviar o estresse, trazendo resultados satisfatórios para a vida dos pacientes. “Crianças que roem unhas, que ficam mordendo a tampa da caneta, que têm essas manias, com o uso do brinquedo, acabam desenvolvendo algo mais prazeroso diante dessa situação e aquele comportamento diminui”, explica a especialista.
“Tudo que é manual a gente usa muito em terapia porque alivia a ansiedade. Esses brinquedos são como aquelas massinhas, a slimes, é a mesma ideia. Eles vieram para entreter, porque são coloridos, são muito visuais, alguns têm luzes. Já foi comprovado que movimentos repetitivos ajudam mesmo a aliviar o estresse, então de um lado é muito positivo, leva à distração”, pontua a especialista, que alerta, no entanto, que é preciso bom senso. “No geral, se não for uma coisa exagerada, para se distrair e como forma de relaxar, não vejo problema. Mas desde que use de uma forma adequada, com equilíbrio. Não pode exagerar, porque tudo que é exagero começa a fazer mal. E isso é uma coisa que vai entreter e pode ajudar, mas não vai resolver um quadro de ansiedade. Então os pais precisam ficar atentos ao uso da criança, porque em alguns momentos pode atrapalhar”, relata, citando como exemplo pessoas que sentem maior inquietação com o uso do brinquedo.
A pedagoga Sara Braga, autora do livro “Amar, educar e dar limites”, diz que não é contra o uso do Pop It, mas também defende o uso consciente. Ela alerta que essa popularização do brinquedo e a utilização excessiva, especialmente entre crianças e adolescentes, pode acabar “mascarando” os sintomas reais de ansiedade e crises de pânico. Segunda a pedagoga, todo comportamento é motivado por uma questão emocional que deve ser avaliada. “Se a gente não souber a raiz dessa ansiedade e não entender o que está acontecendo, aquele momento com o brinquedo não vai surtir efeito e pode causar um efeito rebote”, afirma a especialista, citando que sem o brinquedo, a criança precisa enfrentar a “vida real”, o que pode trazer as consequências. “Não permitam que esses sentimentos sejam mascarados com um paliativo que depois é uma bomba que explode com problemas físicos e emocionais. Já temos casos de crianças que cometeram suicídios, que se mutilam, então são muitas coisas acontecendo por trás dessa ansiedade. O alerta é nesse sentido: procure entender os comportamentos do seu filho, eles são sinais, são pistas”, sinaliza a especialista.
Fonte: Jovem Pan