O Ministério da Saúde enviou pedido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta quinta-feira, 13, para a liberação do uso de autotestes de Covid-19 no Brasil. A testagem individual já é muito utilizada em outros países, sobretudo na maior parte da Europa, onde é possível comprar o exame em farmácias e laboratórios por 5, 7 ou até 10 euros. No Reino Unido, o autoteste é distribuído gratuitamente. O produto ainda não é liberado no Brasil por causa de uma resolução da Anvisa de 2015, que determina a necessidade da apresentação de uma política pública do governo federal para liberação ao público. Especialistas ouvidos pela Jovem Pan consideram que a medida traria vantagens e poderia ajudar no controle da pandemia no país, mas ressaltam que é necessário criar uma forma de notificação dos casos positivos, além de estratégias para informar a população sobre como realizar o exame em casa.
Para o infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), não há condição do Brasil ter autotestes de Covid-19 como política pública, com distribuição gratuita pelo SUS. “Não se cria uma política de vigilância participativa da população sem treinar, sem ter testes fáceis, de qualidade e sem ter sistema para registrar os casos que vierem positivos”, explica. “A gente há muito tempo defende que isso seja implantado no país para sífilis, hepatite C e HIV. Obviamente que para Covid seria muito desejável que a gente tivesse uma política pública de testagem, mas isso não se implanta da noite para o dia e custa dinheiro”, completa. Kfouri, no entanto, diz ser a favor da liberação de autotestes de Covid-19 para venda em farmácias. “Quanto mais testes a gente fizer, melhor. Eu posso fazer uma festa em casa, reuniões maiores de trabalho com testagem, facilita muito. Só precisa existir uma maneira de registrar os casos positivos no sistema para a gente não ficar sem ideia do que está acontecendo”, destaca. O médico lembra também que, com os testes realizados em casa, há riscos de resultados errados ou mal interpretados. Sendo assim, uma campanha de informação também seria necessária.
Ethel Maciel, doutora em epidemiologia pela Johns Hopkins University, afirma que a oferta do exame individual poderia desafogar os serviços de testagem em hospitais, farmácias e laboratórios. Ela também critica a dificuldade de acesso a testes no país. “O Brasil nunca teve um programa de testagem. Com a onda da Ômicron, fica ainda mais grave a situação porque tem uma procura muito grande e uma oferta muito limitada, mesmo na rede privada. Em alguns planos de saúde ,você precisa ter um pedido médico para fazer o teste. Essa já é mais uma barreira para o acesso”, diz. Maciel defende ainda uma política de distribuição de autotestes pelo SUS, com uma quantidade limitada por família. A especialista ressalta, porém, que é necessário criar uma forma de notificar o Ministério da Saúde sobre os casos positivos. “Precisa não só da possibilidade do teste, mas de um programa de testagem que oferecesse orientação para as pessoas”, afirma. “Quando houver a liberação, que é o que eu acredito que vai acontecer, a gente precisa ter uma campanha de informação de como usar esses testes e uma forma de notificação. O Ministério da Saúde precisa ter um controle de quantos testes foram vendidos na farmácia. Esse é o principal problema. Se você não tiver uma forma fácil de informar o resultado, acaba tendo uma subestimação.”
Maciel também defendeu a oferta de testes individuais para crianças em idade escolar e que ainda não receberam a vacina. “Testes para famílias que têm crianças de até 11 anos seria interessante para que a gente pudesse monitorar essas crianças que vão para a escola estando totalmente desprotegidas neste momento. Acho que pelo menos para famílias que têm crianças que não estão vacinadas deveria haver alguma proposta do governo para doação desses testes”, conclui.
No pedido enviado à Anvisa, o ministério afirmou que o autoteste pode ser uma boa estratégia de triagem para permitir que quem teste positivo inicie o isolamento. A pasta também considerou a possibilidade de realização de testes antes de se reunir em ambientes fechados com outras pessoas e a não sobrecarga dos sistemas de saúde. Foi determinado que o fabricante do teste deve fornecer canal de comunicação telefônico, sem custo, disponível 24 horas por dia para com pessoal capacitado para orientar sobre o uso do produto. Em caso de resultado positivo, a orientação é de que o indivíduo procure atendimento em uma unidade de saúde ou teleatendimento para confirmação de diagnóstico e orientações pelos profissionais de saúde, bem como a notificação nos sistemas oficiais.
Fonte: Jovem Pan