A Avenida Paulista é um dos grandes cartões postais de São Paulo, importante para a cidade por razões econômicas, históricas, culturais e de tráfego. Nos últimos meses, contudo, a via tem sofrido com a falta de segurança e de limpeza. Duas modalidades de assalto preocupam moradores da região e quem trabalha por ali: aqueles cometidos por um grupo de garotos e os realizados por ciclistas, que pegam celulares das mãos de pessoas desavisadas. Os menores ficam principalmente na área em torno da estação Trianon-Masp do metrô. Ali, o grupo costuma abordar quem sai da estação pelos acessos com escadas fixas, que não têm câmeras de segurança. O grupo tenta furtar celulares dos bolsos ou puxar correntes dos pescoços. Em alguns casos, ainda cometem roubos, com ameaças de jogar pedras caso o transeunte se negue a entregar os bens.
A estudante Ananda Miranda, que cursa jornalismo na faculdade Cásper Líbero, conta que conseguiu escapar por pouco de uma tentativa de furto. “Eu estava saindo da Trianon pelas escadas normais [as que não são rolantes], junto a um grupo de pessoas que eu não conhecia, e já estava ciente que aquelas crianças estavam assaltando. Bem no momento em que eu estava subindo a escada, avistei os meninos ali na porta. Dois deles estavam sentados e um estava em pé. Eu já estava com a mochila na frente do corpo e, na hora que eu os vi, apertei a mochila. Meu celular estava preso na parte da frente da minha calça, com a mochila cobrindo. As pessoas da frente aceleraram o passo e eu acelerei depois; ficou um vão, e aí que eles tentaram. Eles fazem assim: um esbarra e atrapalha seu caminho e aí outro vem e passa a mão. Tentaram passar a mão entre minha barriga e minha mochila. Eu percebi, dei um empurrão nele e saí correndo, fui em direção ao shopping Cidade de São Paulo porque estava com medo de ficar sozinha”, contou Miranda. Uma vez no centro comercial, ela mandou mensagem para um amigo, que a acompanhou no caminho até a faculdade. A aluna ainda disse que, em outra ocasião, viu um garoto pequeno puxar um colar e fugir, acompanhado por dois maiores, que poderiam intervir caso algum problema ocorresse. Os estudantes da faculdade criaram até um grupo de WhatsApp para compartilhar informações sobre os crimes.
Caso parecido foi relatado por Luana de Souza, que trabalha como entregadora de aplicativos de delivery ao lado dos irmãos Luan e Lucas. “Uma vez, um desses garotos tentou puxar o celular da bolsa em que fica preso na bike do meu irmão [Luan]. Na hora, eu estava do lado e não achei que era assalto, pensei que era um conhecido que tinha vindo cumprimentá-lo. Só depois que ele disse que não conhecia o garoto que eu percebi que era uma tentativa de roubo”, contou a jovem. Os três irmãos e o amigo Mateus Araújo relataram que também são comuns os furtos em que alguém passa de bicicleta e pegam o celular da mão de quem anda. “Às vezes, eles estão com roupas de entregadores. Isso nos atrapalha, gera um preconceito contra a gente”, comentou Araújo. O grupo ainda relatou que toma conhecimento de casos de roubos de bicicletas ao menos três vezes por semana em contato com outros entregadores.
Em nota enviada à Jovem Pan, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que a Polícia Civil realizou uma operação contra esse tipo de crime. “A Polícia Civil deflagrou na última sexta-feira, 8, operação em campo visando a prisão dos integrantes da chamada Gangue da Bicicleta. Três homens foram detidos e um menor (15) apreendido, além de uma criança (10), entregue à sua genitora. Foram apreendidas quatro bicicletas utilizadas para a prática dos crimes, todas de considerável valor econômico, e aparelhos celulares sem procedência”, relatou a SSP. A pasta não informou, entretanto, se havia algum plano específico para realizar a segurança na Avenida Paulista. Também na última sexta, a Polícia Militar apreendeu quatro menores e deteve dois adultos que realizavam roubos, mas outros quatro conseguiram escapar.
No período da tarde, quando a reportagem esteve na avenida, viu seis grupos de policiais, em duplas, trios ou quartetos, circulando pela Paulista; perto da entrada do parque Trianon, se encontravam uma viatura da Polícia Civil e duas viaturas e uma van da Polícia Militar. A estudante Miranda, por outro lado, relatou que pouco vê policiais ao caminhar na Paulista à noite — ela chega para a aula por volta das 18h40. Ambulantes e funcionários de bancas de jornais e de farmácias informaram que o grupo de menores ainda circula pela Paulista.
“Está a mesma coisa de sempre. A pandemia reduziu a circulação, mas agora voltou ao normal. Quem sai aí [na rua] ainda corre risco”, diz Weberton Cardoso, que trabalha em uma banca de jornal. O vendedor ambulante colombiano Miguel Suárez, que mora em São Paulo há sete anos e negocia brincos e filtros de sonhos, entre outras coisas, concorda. “O maior problema continua sendo os garotos. De vez em quando, passa alguém e leva algo da banca, mas é pouco. Mas os garotos eu vejo sempre”, relata o vendedor. Alzira Pereira, que vende panos de prato, completa: “Estou aqui porque é onde circula o dinheiro. Mas não me sinto segura em nenhum lugar da cidade”.
Limpeza
A falta de cuidado com a via mais conhecida de São Paulo também foi alvo de críticas. Pessoas ouvidas pela reportagem reclamaram da limpeza dos parques Mário Covas e Trianon. Um funcionário do Trianon, que não quis se identificar, informou à reportagem que o problema ocorreu por causa de uma troca de empresa que prestava o serviço, que já teria sido normalizado. A prefeitura de São Paulo confirmou a troca em nota enviada à Jovem Pan. “O novo contrato, iniciado em 1º de abril, conta com uma equipe maior para atender a demanda e prevê as seguintes atividades: manejo de plantas, limpeza externa, corte de grama, poda de árvores, zeladoria de sanitário e predial, coleta e destinação de lixo e entulho, disponibilização de máquinas, equipamentos e veículos necessários à execução dos serviços de manejo e conservação, e fornecimento de ferramentas, insumos agrícolas, materiais e equipamentos diversos necessários à execução dos serviços contratados”.
Recentemente, um vídeo viralizou na internet mostrando grandes ratos na Paulista. Sobre isso, a prefeitura paulistana informou que a cidade realiza um programa de controle de roedores durante todo o ano para evitar o risco de leptospirose, doença transmitida por esses animais. “As áreas do município que, a partir de critérios epidemiológicos, são tidas como de risco para contágio por leptospirose, são trabalhadas segundo critérios de manejo integrado. Dessa forma, procura-se, por intermédio e parceria com as subprefeituras, fortalecer a zeladoria urbana e a infraestrutura e, posteriormente, realizar a desratização. Este serviço ocorre mediante a aplicação de raticidas em pontos estratégicos. A aplicação deste produto é feita em três ciclos anuais de trabalho, em que cada um deles envolve três ou quatro aplicações de raticidas, o que resulta em um trabalho contínuo”, informou.
Gente, dá uma olhada neste vídeo registrado hoje na avenida Paulista ???? ???? pic.twitter.com/GpDLL4pM5C
— Carla Vilhena (@carlavilhenaa) April 9, 2022
Sobre a limpeza da via de forma geral, a prefeitura relatou que a varrição e coleta do lixo são feitas diariamente, o que foi corroborado pelos trabalhadores da avenida. “Passam por aqui de meia em meia hora varrendo”, contou o colombiano Suárez. “Eu vejo as moças varrendo e o caminhão limpando com água. Mas não adianta. O problema é o povo, suja tudo muito rápido, logo depois”, criticou Alzira Pereira. Outro ponto criticado por pessoas ouvidas pela reportagem, a presença de moradores de rua também aumentou na Paulista após a pandemia, assim como em todo o centro de São Paulo. É possível ver barracas e pessoas dormindo no chão em toda a via e em qualquer horário do dia, mas à noite se forma uma concentração maior no vão do Masp e na entrada do Parque Trianon. A prefeitura informou que, desde o início de 2022 até o dia 10 de abril, equipes do Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas) realizaram 1.043 abordagens com 639 encaminhamentos para Centros de Acolhimento na Avenida Paulista e região. Apenas no mês de abril, até o último dia 10, foram 125 abordagens e 72 atendimentos na mesma área.
“A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) realiza trabalho contínuo na Avenida Paulista e região, com abordagens diárias à população em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade social. Em todos os pontos da cidade, as abordagens sociais do Seas são feitas a partir da escuta qualificada e da construção de vínculos. O atendimento é pautado pela atenção às necessidades imediatas das pessoas atendidas, como o acolhimento na rede socioassistencial. Não há, portanto, distinção de atuação por região da cidade. A rede socioassistencial conta com diversos serviços de acolhimento para pessoas em situação de rua que totalizam mais de 15 mil vagas”, informou a prefeitura, em nota, enviada à Jovem Pan.