Por volta das 22 horas do dia 25 de junho, a CPI da Covid-19 viveu um de seus momentos mais aguardados. Pressionado a citar o nome de um parlamentar que teria sido mencionado pelo presidente Jair Bolsonaro como “dono do rolo” envolvendo a compra da Covaxin, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) revelou o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Coube à senadora Simone Tebet (MDB-MS) arrancar a confissão do depoente. Antes dela, porém, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) foi enfático ao dizer que Miranda não teve “coragem” e “jogou fora uma oportunidade” de dizer a verdade. Delegado da Polícia Civil por 17 anos antes de ser eleito para o Senado, Vieira é elogiado pelos colegas pela inquirição incisiva nas sessões da comissão. Em entrevista à Jovem Pan, o senador faz um balanço dos trabalhos da CPI e projeta o que vem pela frente. “A gente não pode esquecer o que já está ancorado em provas e documentos: o governo retardou a compra de vacinas, não esclareceu a população e não elaborou políticas para reduzir a circulação dos vírus. Agora surge a necessidade de apurarmos se houve corrupção. Isso é um fato muito grave, mas é preciso não esquecer os fatos já provados, as ações e omissões, que estão na essência do requerimento de criação desta CPI”, afirmou.
Nesta quinta-feira, 1º, os senadores ouviram Luiz Paulo Dominguetti, cabo da Polícia Militar de Minas Gerais que se apresentou como representante da Davati Medical Supply, negociou a venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca com integrantes do Ministério da Saúde e denunciou uma oferta de propina de US$ 1 por dose do imunizante que teria sido feita pelo então diretor de logística da pasta, Roberto Ferreira Dias, homem de confiança do Centrão. Os integrantes da comissão admitem que a sessão foi bastante confusa, mas Alessandro Vieira avalia que a oitiva serviu para comprovar que o governo federal teve “boa vontade” com uma suposta intermediadora que não parecia ter condições de entregar imunizantes ao país. “Houve a constatação de que ocorreu a negociação de vacinas entre o Brasil e a Davati e que aconteceu esse jantar no qual ele alega que houve pedido de propina. Ao contrário do que ocorreu com a Pfizer, uma empresa respeitada e séria, houve boa vontade com esse tipo de empresa”, disse. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Qual a avaliação do senhor sobre o depoimento de Luiz Paulo Dominguetti? Houve a constatação de que aconteceu a negociação de vacinas entre o Brasil e a Davati. Mais: houve a intermediação do cabo Dominguetti e esse jantar no qual ele alega que houve pedido de propina. Esse pedaço da denúncia [a oferta de propina] precisamos apurar, mas todos os outros estão comprovados. Não foram negados. Muito pelo contrário. Ou seja, ao contrário do que fez com a Pfizer, uma empresa respeitada e séria, houve boa vontade com esse tipo de empresa. Depois ele apresentou aquele áudio para tentar desacreditar o deputado Luis Miranda. Essa é uma apuração que precisamos fazer. E vamos fazer, porque foi feita a apreensão do celular.
Que balanço o senhor faz dos trabalhos da CPI da Covid-19 até agora? Os cientistas ouvidos já provaram que poderíamos ter salvo 300 mil vidas. Isso é de uma gravidade imensa, mas ocorreu porque o Brasil se portou de forma diversa: o mundo discutiu cloroquina, mas fez isso em março e abril de 2020. Em maio de 2020 não existia mais essa discussão. O Brasil continua nisso até hoje. Isso gerou prejuízo à população e lucro para fabricantes. O gabinete paralelo, a negligência na compra de vacinas, a ausência de campanha de conscientização. Isso está comprovado. Agora surge a eventual corrupção e isso merece apuração, porque é grave. Mas é preciso não esquecer os fatos já provados, as ações e omissões, que estão na essência do requerimento de criação desta CPI.
O Ministério da Saúde ficou largado à própria sorte na pior crise sanitária da história do Brasil? Está claro que o Ministério da Saúde não tem uma política de combate à pandemia dois anos e quatro ministros depois. Há, ali, dois grupos – o político e o militar – e um ministro que não manda em absolutamente nada. A declaração de Francieli Fantinato, que agora deixou o cargo de coordenadora do Plano Nacional de Imunização, é muito clara ao dizer que não tinha condições de trabalho. Não tinha vacina e uma comunicação à altura. Isso decorre, dentre outros motivos, da postura do presidente da República.
Fonte: Jovem Pan