De saída do cargo após ter sido comunicado pelo presidente Jair Bolsonaro da troca no comando da Petrobras, Joaquim Silva e Luna disse nesta terça-feira, 29, que a empresa “não tem espaço para aventureiro”. A declaração foi dada em um seminário no Superior Tribunal Militar (STM) sobre a petroleira. Em sua apresentação, o general da reserva do Exército também afirmou que, por lei, a estatal não pode fazer política pública com os preços dos combustíveis e “menos ainda” política partidária. Silva e Luna ficará no cargo até o início do mês de abril, quando assumirá o economista e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires, indicado pelo governo para o posto nesta segunda-feira, 28.
“[A Petrobras] Está bem cuidada, tem uma governança muito forte. Não tem espaço para um aventureiro”, disse. “A Petrobras tem dificuldades de explicar isso à sociedade, que ela compete livremente com qualquer ente do mercado. Eu coloquei [aqui no slide] esse emocional versus racional. Conversando com autoridades de alto nível, você explica isso, ele entende. Aí muda para o emocional e ela pergunta: por que não baixa o preço do petróleo, por que não coloca não sei o que, por que não faz política pública? Por quê? Porque é lei, é lei”, acrescentou. “Tem responsabilidade social? Tem. Pode fazer política pública? Não. Pode fazer política partidária? Menos ainda”, seguiu. Em outro momento, o general disse que “empresas que tabelaram combustíveis tiveram perda de capacidade de investimento”. “Essa dívida monstra da Petrobras foi de tabelamento de preço”, justificou.
Após o seminário, Silva e Luna foi questionado por jornalistas sobre o motivo de sua saída da Petrobras. O general se reservou a dizer que o assunto é “complexo”. “Vou passar por um período de silêncio. Pretendo conversar com toda a imprensa, colocar informações e tirar dúvidas, até pela reputação da empresa que pode estar sendo arranhada”, afirmou. A saída de Silva e Luna da presidência da Petrobras ocorre na esteira de semanas de fortes críticas públicas de Bolsonaro à política de reajuste de preços dos combustíveis. No dia 10 de março, a estatal anunciou a elevação dos preços nas refinarias da gasolina (18,8%), diesel (24,9%) e gás de cozinha (16,1%). O aumento ocorreu em meio à disparada do barril de petróleo do tipo Brent, usado como referência para a formulação dos preços, em reflexo das incertezas no mercado geradas pela guerra no Leste Europeu.
O mega-aumento da Petrobras foi duramente criticada por Bolsonaro, que afirmou em diversas oportunidades que a política de preços da estatal deveria ser revista, apesar de afirmar que não iria intervir no comando da empresa. Desde 2016, a Petrobras mantém o preço de paridade de importação (PPI), que usa a cotação do barril tipo Brent e o patamar do dólar para formular o preço interno. O chefe do Executivo chegou a falar que a diretoria da Petrobras “só pensa neles” e que a empresa deveria ser privatizada. “Muita gente me critica, como se eu tivesse poderes sobre a Petrobras, não tenho poderes sobre a Petrobras. Para mim, é uma empresa que poderia ser privatizada hoje, ficaria livre deste problema. E a Petrobras se transformou na Petrobras Futebol Clube, onde o clubinho lá de dentro só pensa neles, jamais pensam no Brasil”, disse no dia 16 deste mês. A mudança nos preços foi anunciada um dia antes de o Congresso aprovar uma série de medidas com alvo na queda do preço dos combustíveis. “Foi feito um contato com a Petrobras, porque chegou para a gente que eles iam reajustar na quinta-feira da semana passada, e foi feito um pedido para que deixassem para o dia seguinte. Eles não nos atenderam. Nós não podemos interferir nos preços da Petrobras. Se pudesse, as decisões seriam outras”, enfatizou Bolsonaro, que descreveu o aumento praticado pela empresa como um “crime contra a população”.