De janeiro de 2020 a abril de 2021, a Polícia Militar de São Paulo aprovou 1.647 licenças por transtorno mental de seus oficiais — uma média de 102 licenças por mês. As doenças que mais afastaram policiais da ativa foram depressão, transtorno misto ansioso e depressivo e transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool — sendo que um mesmo policial pode ter mais de um afastamento. Os dados foram obtidos pelo Fiquem Sabendo, agência de dados especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI). O policial militar Roberto Oliveira*, foi diagnosticado com depressão, ansiedade e crises de pânico em 2018. Apesar de cinco pedidos de afastamento negados, mesmo com laudos de um psiquiatra particular indicando que ele não estava apto ao trabalho, ele conseguiu ficar fora da corporação apenas de julho a setembro de 2020. No entanto, em março de 2021, ele pediu exoneração da PM para cuidar da saúde mental.
“Esses casos são muito comuns na PM. Muitos não são divulgados porque os policiais têm medo de represália, assédio moral. Acontece muito. Acham que, por se tratar de motivo psiquiátrico, é porque quer se esquivar do serviço”, relata. Roberto chegou a gravar um áudio de um médico da Polícia Militar de São Paulo o acusando de ser imaturo e não querer assumir responsabilidades. “Por isso o alto índice de suicídio. Eu estava lutando pelo afastamento e chegou em um ponto de eu ter que escolher. E eu resolvi escolher pela minha saúde”, alerta. O ex-PM afirma que seu psiquiatra diversas vezes solicitou afastamento das funções, inclusive administrativas, por causa dos transtornos e três tentativas de suicídio. Porém, na maioria das vezes, a Junta Militar apenas retirou sua arma e restringiu sua ação a serviços internos. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, o último publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 65 policiais militares cometeram suicídio apenas em 2019. Entre policiais civis, mais 26 casos.
O psicólogo e professor da PUCPR, Paulo Cesar Porto Martins, destaca que a rotina estressante pode ajudar no desenvolvimento de transtornos. “A rotina de estresse e de estar em constante estado de alerta é extremamente danosa. Quando você fala de segurança, você está lidando com o risco iminente de ir atrás de uma situação de crime ou de fazer ronda, verificar alguma ocorrência. Então o estresse é constante. O nível de atenção, de alerta que o organismo precisa estar nesse tipo de pressão é muito alto. Você também lida muito com a violência, com situações extremas. E no final das contas somos todos seres humanos e precisamos de ajuda para lidar com toda essa carga emocional.” Um outro aspecto importante, ressaltado pelo profissional, é que o policial sempre precisa ser forte, não pode mostrar fraqueza e nem um lado fraco na atuação dele. “Não é fácil, todos temos problemas, medos e anseios. O policial é aquela pessoa que está lá em ordem e para colocar ordem. A terapia pode ser esse momento dele poder ter ajuda para se colocar em ordem e compartilhar medos e anseios, já que na rotina de trabalho ele não pode.”
Fonte: Jovem Pan