Por que o cessar-fogo entre Israel e Faixa de Gaza não representa uma solução definitiva

Policial israelense (à esquerda) aponta arma para palestino (centro) ao lado de um judeu ortodoxo ferido (direita) em Jerusalém

Apesar de Israel e Faixa de Gaza terem entrado em acordo por um cessar-fogo a partir desta sexta-feira, 21, as disputas que deram origem ao conflito mais recente na região estão longe de serem resolvidas. Desde que lançou os primeiros mísseis no último dia 10, o Hamas forçou milhares de cidadãos israelenses a correrem para abrigos antiaéreos e causou o fechamento temporário do Aeroporto Internacional Ben Gurion, mas a grande maioria dos seus projéteis falhou ou foi interceptada antes que causasse qualquer dano ao território inimigo. Do outro lado da disputa, Israel conseguiu matar líderes do Hamas e atingir estruturas importantes que eram utilizadas pelo grupo, mas não extinguiu o movimento islâmico palestino por completo e ainda sofreu a pressão da comunidade internacional por ter causado a morte de civis. Durante os dez dias de bombardeios, faleceram pelo menos 12 israelenses e 232 palestinos, incluindo, no mínimo, 63 crianças e 38 mulheres. Além disso, quase 450 edifícios foram destruídos ou seriamente danificados na Faixa de Gaza, que estima prejuízos de US$ 250 milhões em infraestrutura. Enquanto isso, não houve qualquer mudança na disputa envolvendo o bairro de Sheikh Jarrah e tampouco na Esplanada das Mesquitas, locais onde as tensões entre israelenses e palestinos aumentaram há quase um mês. Ainda assim, tanto Israel quanto o Hamas afirmam terem saído vitoriosos da disputa. Danny Zahreddine, líder do Grupo de Estudos do Oriente Médio e Magreb (GEOMM) e professor de relações internacionais da PUC-Minas, analisa que os dois lados conquistaram certo protagonismo político com o conflito. Para ele, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, teve uma pequena “sobrevida política” com a operação militar, após não conseguir formar maioria no parlamento israelense e ver seu poder ameaçado, enquanto o Hamas ampliou a sua força dentro da Palestina em relação ao partido adversário Fatah ao ter conseguido impor certo medo em Israel. André Lajst, diretor executivo do grupo de combate ao antissemitismo Stand With Us Brazil, concorda com esse ponto de vista. “O Hamas quer mostrar para os palestinos que ele pode lutar contra Israel. Na visão do grupo, causar terror em Tel Aviv, por exemplo, é uma espécie de êxito, uma vitória para a sua imagem, porque eles ganham respeito no mundo islâmico radical”, analisa. Porém, ele discorda sobre os resultados que a disputa trouxe para Netanyahu. “O que pode acontecer é um fortalecimento do conservadorismo no quesito segurança entre os eleitores israelenses. Isso faz com que as pessoas fiquem mais impacientes e queiram um líder mais duro contra o Hamas. Porém, existem candidatos que são mais rígidos que o Netanyahu nesse sentido”, justifica. Entenda como começou o conflito recente, quais são as origens profundas das disputas na região e por que um acordo de paz continua sendo uma possibilidade distante:

Qual é a origem do conflito entre Israel e Palestina?

O antissemitismo já existia muito antes da Segunda Guerra Mundial. No entanto, foi principalmente após o Holocausto que se instituiu na Europa a ideia do sionismo, movimento que defendia a criação de um Estado para todos os judeus. O local escolhido pela Liga das Nações para a instalação desse novo país foi a Palestina, território entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão que estava sob o controle da Grã-Bretanha e era considerado sagrado não só pelos judeus como também pelos muçulmanos e cristãos. A ideia era criar um lar nacional para os judeus sem violar os direitos dos árabes que eram maioria ali, mas, na prática, se instaurou uma situação caótica que levou a Grã-Bretanha a sair de cena e deixar o problema nas mãos da recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). A entidade propôs então a instauração de um estado para os judeus e outro para os árabes, além da manutenção de Jerusalém como um território independente, visto seu caráter sagrado para as três religiões monoteístas. O plano foi aprovado, mas nunca colocado em prática. Logo em 1948 houve um conflito entre o recém-oficializado Estado de Israel e a Liga Árabe, composta por Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque e Arábia Saudita. Com o apoio dos Estados Unidos, Israel não só venceu a Guerra Árabe-Israelense como também expandiu seus territórios, passando a ocupar 75% de toda a região, incluindo o lado ocidental de Jerusalém. Foi nesse contexto que a Palestina se dividiu entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, em extremos opostos do mapa. Em 1967, a Guerra dos Seis Dias, da qual participaram Egito, Jordânia e Síria, fez com que Israel expandisse mais um pouco a sua ocupação. Houve novos conflitos em 1973 e em 2014 que, apesar de sangrentos, não resultaram em grandes mudanças do ponto de vista territorial. No entanto, nesse período há uma importante divisão dos palestinos entre dois partidos políticos principais: o Fatah, que passou a governar a Cisjordânia através da Autoridade Nacional Palestina, e o Hamas, que assumiu o controle da Faixa de Gaza após as eleições gerais de 2007. Zahreddine afirma que ambos começaram como grupos armados que lutavam contra Israel, mas foram se desenvolvendo de formas diferentes ao longo do tempo. “O Fatah, que não se alimenta de uma ideologia religiosa, reconheceu o Estado de Israel e foi reconhecido por ele, tornando-se um importante interlocutor para o processo de paz entre palestinos e israelenses. Já o Hamas possui um elemento religioso muito forte e continua não reconhecendo o Estado de Israel”, explica. O cientista político André Lajst defende, ainda, que o Hamas se encaixa na categoria de grupo terrorista, já que eles realizariam ataques armados contra civis com objetivos políticos.


Fonte: Jovem Pan

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