A atuação da tropa de choque governista na CPI da Covid-19 deu munição ao grupo majoritário que compõe a comissão em investigações que atingem o governo do presidente Jair Bolsonaro. Duas das principais linhas de apuração do colegiado, o processo de compra da vacina Covaxin e a relação do lobista Marconny Albernaz Faria com pessoas próximas ao chefe do Executivo federal e servidores do Ministério da Saúde, foram abastecidas por informações que chegaram aos senadores a partir de requerimentos apresentados por aliados do Palácio do Planalto.
O caso mais recente envolve Marconny Faria e um pedido do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que deixou a titularidade da CPI quando assumiu a Casa Civil – a cadeira passou a ser ocupada pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS). Em um de seus requerimentos, o cacique do Centrão pediu às 27 Procuradorias Gerais de Justiça e ao Ministério Público Federal o envio da cópia integral de todos os inquéritos e investigações relativos à aplicação de recursos federais nos Estados, no Distrito Federal e em municípios com mais de 200 mil habitantes.
Com o compartilhamento dessas informações, a comissão teve acesso às quebras de sigilo do lobista, alvo de uma operação no Pará que apurava uma possível fraude a uma licitação para a compra de testes de Covid-19 que envolvia a Precisa Medicamentos. Foi a partir do telefone celular de Marconny que os senadores identificaram as mensagens que falavam sobre “a arquitetura da fraude” que envolvia o lobista, o dono da Precisa, Francisco Maximiano, o ex-diretor de um órgão ligado à Anvisa José Ricardo Santana e o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, “o Bob”. As conversas privadas também mostram que Faria e Santana se conheceram em um churrasco que ocorreram na casa da advogada de Bolsonaro, Karina Kufa, e que o filho do presidente, Jair Renan, recorreu ao lobista que está na mira da comissão para abrir uma de suas empresas.
Em um caso anterior, um requerimento do senador Eduardo Girão (Podemos-CE) que mirava apurar eventuais desvios de recursos federais subsidiou a apuração da CPI da Covid-19 sobre a importação da Covaxin. Em depoimento ao MPF, o chefe de Importação do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, disse que sofreu “pressão anormal” de auxiliares do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para agilizar o processo de compra. Na esteira desta linha investigativa, a comissão apontou que a Precisa fraudou documentos enviados ao Ministério da Saúde e que o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, apresentou um documento falso para defender o Planalto e rebater as denúncias de irregularidades na aquisição do imunizante indiano.