Após a saída de mais de 30 servidores de carreira do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão técnico do Ministério da Educação (MEC), responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), justamente às vésperas da execução do exame, a Câmara dos Deputados ouve, nesta quarta-feira, 10, o presidente do órgão, Danilo Dupas, para que ele se explique sobre as demissões em massa e sobre acusações de assédio moral. Em entrevista ao vivo ao Jornal da Manhã, o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG), membro da comissão de Educação da Casa, comentou o assunto. Para ele o pedido de demissão dos funcionários pode ter sido, em parte, gerado por questões ideológicas, mas vai muito além disso e envolve a insegurança dos servidores diante das medidas técnicas adotadas pelo Inep e do surgimento de eventuais irregularidades. “Não é só uma questão ideológica. O que eu estou colocando é que a priorização da questão ideológica pelo governo Bolsonaro faz com que o Inep ignore todas as outras questões técnicas, que são importantes para conduzir operações de guerra, como se costuma chamar a realização do Enem no Brasil. O fato de priorizarem essa questão ideológica faz com que temas relevantes, como a logística do Enem, a contratação de fornecedores e até a condução para as questões da prova, que sempre são temas polêmicos ali dentro, fiquem em segundo plano. O que a gente observou conversando com os servidores é que eles não querem ser corresponsáveis por eventuais irregularidades na comissão da prova”, afirmou Mitraud.
“Esses servidores que saíram deixaram suas funções comissionadas. São servidores de carreira do Inep que serviram em governos anteriores, do PT, no governo Temer e que, agora, serviram, durante quase três anos, o governo Bolsonaro, até chegar num ponto em que disseram ‘aqui não dá mais’. Eles não querem colocar o CPF deles, a assinatura deles, na decisão do Inep, porque não confiam que ela foi tomada com base no melhor para a educação brasileira, na questão técnica, e não querem ser responsabilizados depois por uma eventual irregularidade. Certamente, vai muito além de uma divergência ideológica, mas pelos servidores não se sentirem confortáveis em tomar uma decisão de chefia e depois serem responsabilidades por eventuais irregularidades”, continuou a explicação.
O deputado ainda acrescentou que é possível que parte dos servidores tenham deixado o órgão por questões ideológicas também, mas que esse viés poderia ter sido provocado pela falta de tato do governo Bolsonaro, em tentar forçar uma nova ideologia, de maneira sem tato, dentro da pasta. “Eu não tenho nenhuma simpatia pelos sindicatos, agenda de esquerda e coisas assim. De fato, acho que parte da insatisfação pode ser, sim, de uma divergência de visões de mundo, de ideologia. Mas, especialmente, sabendo que a educação brasileira é historicamente dominada por pessoas mais de esquerda que esse governo não pode agir como um elefante dentro de uma loja de cristal. É preciso ter tato, tem que ter cuidado para implementar mudanças. Não pode simplesmente dizer ‘vou mudar tudo isso que está aí’ e chegar lá fazendo uma bagunça toda, de uma hora para outra, colocando em risco os alunos brasileiros. Mudar esse viés presente na educação brasileira requer tato, requer diálogo, e o que a gente vê que esse governo tem feito nas diferentes gestões do MEC é o contrário, é colocar um elefante de uma loja de cristal, achando que isso vai fazer um bem para o país, mas prejudicando os alunos, que pelo segundo ano consecutivo sofrem com inseguranças em relação ao Enem, às vésperas da prova. No ano passado, o ministério se negava a adiar a prova por conta da pandemia, num contexto maior de negação da pandemia que o governo Bolsonaro teve e, em cima da hora, foi obrigado a mudar a data”, afirmou o deputado.
Fonte: Jovem Pan