Os confrontos entre o Exército ucraniano e os separatistas pró-Rússia aumentaram nesta sexta-feira, 18, sob acusações de novos bombardeios no leste do país que violam o cessar-fogo, estabelecido pelos Acordos de Minsk, em vigor nesta região desde 2014. Cada lado acusa o outro de bloquear o processo de paz. Os separatistas ordenaram a evacuação de civis para a Rússia, gerando novos temores de que o presidente Vladimir Putin esteja finalizando os preparativos para invadir o país. O presidente russo admitiu um agravamento da situação no Donbas, região onde o exército ucraniano enfrenta há oito anos forças separatistas apoiadas por Moscou.
A violação do cessar-fogo aumentou o temor do Ocidente de um pretexto para uma invasão russa. O alerta sobre a busca por um motivo, sendo real ou não, para invadir a Ucrânia, foi falado ontem por Austin Blinken durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU. Na quinta-feira, 17, autoridades ucranianas informaram um bombardeio de uma creche na região e citaram vinte violações do cessar-fogo por parte dos separatistas pró-Rússia. Ao mesmo tempo, os insurgentes pró-Moscou relataram 27 disparos por parte do exército ucraniano nas últimas horas. Segundo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o cessar-fogo foi violado 189 vezes na quinta-feira, na região de Donestsk, e 402, na região de Luhansk, ambas no leste da Ucrânia.
Em meio a tensões com os países ocidentais, os legisladores russos pediram a Putin, na terça-feira, 15, que reconheça a independência dos territórios pró-Rússia do Donbas ucraniano, uma bacia mineradora e industrial na fronteira com a Rússia que inclui as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk. Denis Pushilin, líder de Donetsk, anunciou em um vídeo uma partida massiva e centralizada da população para a Rússia. Leonid Passetshnik, encarregado de Lugansk, pediu que a população deixe o território para evitar vítimas civis.
Em confronto há oitos anos, a guerra entre Kiev e os separatistas apoiados por Moscou deixou mais de 14 mil mortos e mais de 1,5 milhão tiveram de abandonar suas casas. A violência dos confrontos, no entanto, diminuiu quando os acordos de Minsk foram assinados em 2015 entre a Rússia e a Ucrânia, mediados pela França e pela Alemanha. Os ataques nesta região acontecem em um momento de grande tensão por uma possível invasão russa ao país e pela tensão com o ocidente que acusa Moscou de ter enviado dezenas de milhares de soldados para a fronteira com a Ucrânia. Segundo os Estados Unidos, são mais de 150 mil soldados russos na fronteira com a Ucrânia.
Retirada das tropas russas
Apesar do número de soldados que ocupam a região, a Rússia alega que não quer invadir a Ucrânia, mas exige garantias para sua própria segurança, inaceitáveis para os ocidentais. Durante toda semana, o governo russo tem informado que está retirando as tropas da região fronteiriça. Nesta sexta-feira, eles informaram a evacuação de mais tanques e aviões bombardeiros da península da Crimeia. “Outro trem militar com soldados e material que pertence a unidades de tanques do exército do distrito militar do oeste retornou para suas bases permanentes. Estas forças retornam a suas bases depois de concluir um exercício de treinamento planejado”, afirmou o ministério da Defesa russo em um comunicado.
Os anúncios de retirada parcial, com imagens de trens transportando tanques, não convencem os países ocidentais. O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou que Washington continua observando mais tropas russas em deslocamento na direção de áreas de fronteira com a Ucrânia. Em uma conversa telefônica com seu homólogo russo, Serguei Shoigu, Austin pediu uma desescalada, o retorno das forças russas que cercam a Ucrânia às suas bases e uma solução diplomática, disse o Pentágono.
Com as atenções do mundo inteiro voltadas para o próximo passo de Vladimir Putin, a Rússia anunciou que fará, no sábado, manobras de suas forças estratégicas, incluindo disparos de mísseis balísticos e de cruzeiro. De acordo com o Ministério russo da Defesa, o objetivo dos exercícios é testar o nível de preparação das forças envolvidas e a confiabilidade das armas estratégicas nucleares e não nucleares. Blinken, propôs reunir-se com o Sergei Lavrov na Europa na semana que vem, mas Moscou sugeriu que o encontro aconteça no próximo fim de semana. Washington aceitou.
*Com informações da AFP