O Ever Given ocupou as manchetes de todo o mundo há mais de um mês, quando encalhou e obstruiu durante uma semana uma das principais artérias do comércio marítimo mundial, o Canal de Suez. Depois que o porta-contêineres foi liberado no dia 29 de março, a fila de mais de 400 navios foi se desfazendo e, aos poucos, a repercussão do caso diminuiu. No entanto, o calvário do navio de bandeira panamenha, propriedade japonesa e operação alemã está longe de acabar. Com 20 mil contêineres e 25 tripulantes indianos, a embarcação permanece ancorada na hidrovia porque a Autoridade do Canal de Suez (SCA) está exigindo o pagamento de quase US$ 1 bilhão para permitir que o Ever Given siga viagem. O valor serviria para cobrir os gastos com a operação de resgate do navio e compensar os danos causados pelo encalhamento, inclusive os que teriam atingido a “reputação” da via navegável pertencente ao Egito. As investigações sobre as causas do problema, que ainda estão em andamento, devem ajudar a determinar os responsáveis pelo encalhamento. Porém, como não houve perda de vidas, derramamento de óleo ou qualquer atividade criminosa, trata-se de uma questão meramente civil sobre as implicações financeiras do incidente, que envolve empresas e seguradoras de diferentes países.
As autoridades egípcias e a proprietária do navio, a empresa japonesa Shoei Kisen, mantiveram um tom amigável nas negociações até 7 de abril, quando o Canal de Suez anunciou que exigiria o pagamento de US$ 1 bilhão em compensações. A seguradora UK P&I Club considerou o valor “extraordinariamente grande” e cinco dias depois fez uma contraproposta que chamou de “generosa”. Logo no dia seguinte, a administração egípcia recusou a oferta e disse que o navio ficaria retido. O jornal britânico Lloyd’s List, especializado em comércio marítimo, classificou como “exagerada” a postura do Canal de Suez, que de acordo com suas estimativas, deveria cobrar no máximo US$ 220 milhões para cobrir os gastos e danos causados pelo encalhamento. O editor da publicação, James Baker, escreveu que a rota estava causando “mais dano à sua reputação ao fazer uma reclamação escandalosa do que por ter sido fechada por seis dias”.
Especialistas ouvidos pela Jovem Pan afirmaram que, em meio a esse intricado contexto jurídico, a tripulação teoricamente pode passar anos presa a bordo. Cada navio é considerado uma extensão do território da nação de sua bandeira, por mais que esteja atracado em um outro país. Dessa forma, as pessoas que estão a bordo precisam apresentar passaporte e passar por todos os trâmites de imigração para poderem desembarcar. Nesse sentido, o Ever Given é um pedaço do Panamá habitado por 25 marinheiros com passaportes da Índia que dependem da autorização da polícia do Egito para desembarcar e seguir viagem por outros meios de locomoção, já que o navio em si encontra-se retido. A Federação Internacional dos Trabalhadores em Transporte (ITF) visitou a tripulação do Ever Given e garantiu que ela está bem, apesar de ansiosa para saber se poderá voltar para casa quando terminarem seus contratos. A entidade defendeu ainda que o Egito “não pode tomar os marinheiros como reféns” e que eles deveriam ser dispensados no final dos contratos.
Fonte: Jovem Pan