Representantes da Rússia e Ucrânia voltam a se encontrar nesta terça-feira, 29, para mais uma rodada de negociações de cessar-fogo. Até agora, quatro encontros já foram realizados, sendo o último de forma virtual. Para essa nova reunião, que acontece em Istambul, na Turquia, nem Moscou nem Kiev acreditam que haja avanços nas questões principais. Até o momento, o único acordo ao qual os dois países já chegaram foi a criação de corredores humanitários para evacuação de civis em segurança.
O presidente russo Vladimir Putin já informou que não abre mão de suas exigências para acabar com a guerra. Volodymyr Zelensky, que no começo também não dava o braço a torcer e era duro em suas falas, já começou analisar as propostas impostas pelo líder russo para acabar com a “operação especial” na Ucrânia, que já dura mais de um mês. Apesar dos representantes dos dois países falarem que um acordo imediato é complicado por causa da desavenças existentes, no dia 16 de março, o jornal britânico “Financial Times” informou que já haveria um esboço das negociações entre os dois países. Dentre as principais exigências de Putin para dar fim à guerra na Ucrânia estão:
Reconhecimento das regiões separatistas
Donetsk e Luhansk são duas regiões separatistas pró-Rússia dentro do território ucraniano. São conhecidas como República Popular de Donetsk (RPD) e República Popular de Luhansk (RPL). Juntas, elas formam a região de Donbass, que está em conflito desde 2014, quando separatistas favoráveis ao governo de Moscou tomaram prédios governamentais. Segundo o governo ucraniano, ambas as regiões estão sob o controle russo e foi por lá que eles conseguiram ingressar da Ucrânia após Vladimir Putin reconhecer a independência das duas regiões, no dia 21 de fevereiro.
Desistência da Crimeia
A Crimeia é uma região ucraniana que foi anexada pela Rússia em 2014, após a Ucrânia começar a se aproximar do Ocidente e aumentar o seu desejo por ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Diante desse cenário, Putin começou uma invasão no local para assumir o controle e impossibilitar que houvesse essa mudança de domínio sobre a região. Apesar de os russos comemorarem há oito anos a independência da Crimeia — e tratarem o local com seu território —, nenhum outro país, nem mesmo a Ucrânia, faz este reconhecimento.
Adoção de status neutro
O desejo da Ucrânia de fazer parte da Otan e da União Europeia foi o principal motivo que fez com que Putin ordenasse a invasão. Para evitar que o país se aproxime do Ocidente e fragilize a segurança russa, o líder quer que o país vizinho adote uma posição de neutralidade e se comprometa a não entrar para nenhuma aliança. Basicamente, que seja igual à Suíça. Essa exigência é uma das mais próximas de se concretizar, pois o presidente Zelensky já disse que o ingresso da Ucrânia na Otan é impossível. “Durante anos, ouvimos falar de portas supostamente abertas, mas também ouvimos que não podemos entrar lá. Isso é verdade, devemos admitir isso”, declarou durante uma entrevista realizada no dia 15 de março. No último domingo, Zelensky afirmou que está pronto para firmar um compromisso sobre o status de neutralidade.
Desarmamento do país
Por ser o último país entre o Ocidente e a Rússia, Putin se sente ameaçado pela Ucrânia e sua vontade de se ocidentalizar. Por essa razão, uma de suas exigências para cessar-fogo é que o país se submeta a um processo de desarmamento para garantir que não será uma ameaça. Esse foi outro dos apontamentos feitos pelo líder russo que Zelensky se comprometeu a cumprir caso eles encerrem a guerra. Com isso, a Ucrânia também se submete a não hospedar nenhuma base militar estrangeira em seu território. Mais dois pontos foram impostos por Putin: proteção da língua russa em território ucraniano e um processo de “desnazificação”. Entretanto, essa última condição é vista como uma ofensa por Zelensky, uma vez que ele é judeu e tem parentes que morreram no Holocausto.
As condições de Zelensky
Se por um lado Putin tem suas exigências, Zelensky também levará as deles para encerrar logo a guerra que já dura mais de um mês e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), já deixou mais de 1.100 civis mortos e mais de 3,5 milhões de refugiados, sendo metade deles crianças. Porém, com exceção de um ponto, as condições do líder ucraniano são bem mais simples do que as do russo. A primeira delas se relaciona com um cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas dos territórios ucranianos. O Kremlin já teria concordado com isso, mas ressaltou que só vai deixar aqueles espaços que ocupou desde o dia 24 de fevereiro, o que faz Crimeia e Donbass ficarem de fora do acordo. O segundo ponto diz respeito a “garantias sólidas de segurança”. Kiev até propôs se desmilitarizar, mas, em troca, quer garantias de proteção por parte dos aliados como Estados Unidos, Reino Unido e Turquia.
Na quinta-feira, 24, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse, após participar da cúpula da Otan, que a Ucrânia está chegando a um acordo nas negociações com a Rússia em vários aspectos. Entretanto, negociar o status de Crimeia e Donbass não é algo que está em pauta. “Pode-se dizer que há acordos sobre algumas questões, seja a Otan, seja o desarmamento, seja a segurança coletiva e a oficialidade do idioma russo”, declarou Erdogan, que se dá bem com os dois países. “Mas, fora disso, está a questão do status da Crimeia e do Donbass. E isso, claro, pode não parecer correto para a Ucrânia”, acrescentou. O presidente turco ainda disse que lhe parece “próprio de um líder prudente” a proposta de seu homólogo ucraniano de submeter os acordos negociados com a Rússia a um referendo popular. Erdogan também reiterou que a Turquia continuará firme em sua posição de não reconhecer a anexação da Crimeia.