Após oito meses da saída de Moro do governo, aliados enxergam no ex-ministro um adversário político

Moro anunciou sua saída em coletiva de imprensa no dia 24 de abril de 2020

A manhã do dia 24 de abril de 2020 começou com uma bomba vindo diretamente de Brasília: símbolo do combate à corrupção, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, anunciava sua saída do governo Bolsonaro após 16 meses à frente da pasta. Em uma coletiva de imprensa transmitida para todo o país, acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. Segundo o então ministro, o chefe do Executivo estaria preocupado com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal e gostaria de ter no posto de diretor-geral da PF um homem de sua confiança, alguém para quem pudesse pedir relatórios de inteligência. As declarações resultaram na abertura de um inquérito que apura a veracidade dos fatos e na eclosão de uma das principais crises políticas do ano. As primeiras horas que sucederam o pronunciamento de Moro foram marcadas por uma enxurrada de críticas nas redes sociais e na atuação de parlamentares bolsonaristas que entraram em cena para evitar que as consequências à imagem do governo fossem as menores possíveis.

Personagem central do episódio, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse em entrevista à Jovem Pan que, no primeiro momento, ela e outros aliados de Bolsonaro no Congresso não acreditavam na iminente saída de Moro. “Não acreditávamos porque, no dia anterior à coletiva, a equipe do ministro nos disse que era mentira, que ele ficaria. Também não acreditávamos porque não era a primeira vez que se ventilava a possibilidade dele sair. Ficou difícil de acreditar que ele sairia. Mas foi a coisa certa para todos, porque era um casamento que não tinha mais liga. Foi decepcionante porque achávamos que seria algo duradouro, mas foi o melhor para todos os envolvidos”, conta. Zambelli tentou demover Moro da ideia de deixar o governo e trocou algumas mensagens com o ministro, na tentativa de construir um consenso entre o ex-juiz da Operação Lava Jato e o presidente Jair Bolsonaro. Horas depois, naquele mesmo dia, trechos da conversa foram divulgados pela imprensa. A parlamentar cita a possibilidade de o magistrado ser indicado ao STF e recebe como resposta: “Prezada, não estou à venda”.

Zambelli também afirma que, em um primeiro momento, a repercussão nas redes sociais foi muito ruim para a base aliada de Bolsonaro. Ela ressalta, no entanto, que o presidente passou a reverter a situação com o pronunciamento feito na tarde do dia 24 de abril. “Foi um dia bastante intenso e terminou de maneira muito ruim. Para entender o momento que vivíamos, fizemos uma metragem dos comentários nas redes. Quando ele fez o anúncio de que sairia, mais de 80% dos nossos seguidores demonstravam apoio ao ministro e questionavam o presidente. Às 17h, quando presidente fez aquela coletiva, que fiz questão de participar, a onda virou: notamos que os comentários estavam em 50% a 50%, um pouco mais para o lado de Bolsonaro. O ministro já perdia fãs. Quando os prints de uma conversa privada foram divulgados sem que tivéssemos direito de resposta, no Jornal Nacional, que faz questão de bater no governo, notamos um 85% a 15% pró-Bolsonaro. Foi ali que as pessoas passaram a entender que a postura dele era algo planejado”, disse a deputada à Jovem Pan.

Diagnóstico semelhante é feito pelo deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, conhecida como bancada da bala. Augusto foi relator do pacote anticrime de Moro na Câmara dos Deputados. À Jovem Pan, ele afirmou que, até aquele momento, bolsonaristas não tinham experimentado um “desgaste tão grande”. “Pela primeira vez, vimos as redes sociais se voltarem contra o governo. Nunca tinha visto uma avalanche de mensagens negativas. A forma como ele saiu, com aquela coletiva, acusando o presidente, foi o grande problema do episódio”, afirma. O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) reconhece, também, que as primeiras horas após a coletiva de Moro foram “muito ruins” para o governo. “A coletiva foi um momento muito ruim, foi o mais apreensivo para nós da base. Ficamos realmente preocupados com o futuro do governo e do presidente, porque o ex-ministro saiu surrupiando símbolos do combate à corrupção de forma momentânea. As pessoas esperavam de nós um posicionamento nas redes. Vi muitas pessoas pulando para fora do barco, mas eu tomei a decisão de permanecer fiel, e tenho certeza de que fiz a escolha certa”, disse à reportagem.


Fonte: Jovem Pan

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