Aumento da população de rua assusta moradores da capital paulista

Moradores de rua no centro da capital paulista

A estátua de Duque de Caxias, na região central de São Paulo, é um dos maiores monumentos históricos do Brasil. Imponente, com mais de 60 anos, ela revela parte da história de um dos maiores heróis do país. Um orgulho brasileiro. Mas a região onde está o monumento se transformou em uma espécie de abrigo para pessoas em situação de rua na capital paulista. Não é difícil encontrar eles nas esquinas e calçadas das ruas da cidade de São Paulo, debaixo dos viadutos e até mesmo encostados nos pontos de ônibus. Alguns tem barracas, outros improvisam tendas, mas tem gente que só se protege mesmo com a cobertura de concreto. Entre pilhas de lixo, eles também estão lá.

Se aproximar do local da estátua de Duque de Caxias é cada vez mais difícil para o professor Jorge Gomes. “A minha infância foi na região central de São Paulo, eu jogava bola na [praça] Vila Isabel, hoje você não entra mais lá. É gestão pública, nós não temos. Nossos gestores deixaram tomar conta. Hoje, você não tem mais direito de brincar com o seu filho, de sair com o seu filho, de sair noturno, de passear na praça, porque meia dúzia [de mendigos] tomaram conta. Os nossos gestores simplesmente abandonaram a região central”. A praça Vila Isabel, na região central, se tornou espaço para quem não tem moradia ou escolheu a rua para viver.

As pessoas em situação de rua tomaram conta de muitos espaços públicos da cidade, algo que tem assustado cada vez mais os paulistanos, como é o caso da aposentada Maria Luzia de Araújo. “Antigamente era mais tranquilo. Depois que veio essa Cracolândia para cá, ela se encheu no centro da Sé, Praça Ramos de Azevedo, na Luz, que é nosso ponto maravilhoso de trem e metrô, ali ninguém consegue mais andar depois de 7h da noite. É terrível de todo tipo, de prostituição à droga, você não consegue passar”, comenta.

Outro problema que tem tirado a paz dos paulistanos é a quantidade de usuários de drogas em praças e viadutos da cidade. A aposentada Maria Luzia disse que teve problemas de saúde e que tem dificuldade para dormir. “Depois que eu mudei para cá, há dois anos, eu não tenho mais vida, eu fiquei doente, eu peguei depressão, eu fui fazer tratamento no otorrino, tratamento neurológico, por causa que é muito barulho, eu nunca fui acostumada com barulho, eu não me dou com essa situação do nosso bairro”, diz ela.

O último censo feito pela prefeitura da capital paulista mostra que em 2021, no auge da pandemia de Covid-19, foram contabilizadas 31.884 pessoas na condição de morador de rua. A região que mais concentra pessoas nessa situação é a Sé, com 581; depois vem a Mooca e, em seguida, a Vila Maria. De acordo com os dados do censo, 83,4% dos moradores de rua da capital paulista são do sexo masculino e pouco mais de 16% são mulheres. O maior grupo tem entre 31 e 49 anos de idade. O número de pessoas acolhidas ainda é baixo, do total de moradores que estão nas ruas apenas 19% estão em abrigos municipais. A justificativa seria de que a maioria dessas não querem ir para o centro de ajuda. 72% da população estão nas ruas há dois anos.

“É terrível porque nós estamos no cartão postal da cidade. A prefeitura, em conjunto com a polícia, fez ‘a limpa’ na região da Júlio Prestes e jogaram ‘o lixo’ para debaixo do tapete”, diz a professora Rose Correia. Os números do censo causam revolta para a professora: “Carros de som, religiosos que vem, dizem que para ‘arrecadar ovelhas’, os prédios chegam a estremecer, e também tem bares nos arredores que ficam com o carro a noite toda, com som a volume a noite toda. Então a gente não dorme, nós não temos sossego. Agente cochila, a gente passa a noite cochilando. Tem briga, bomba que estouram… É um é um terror”, comenta.

*Com informações do repórter Vinicius Rangel


Fonte: Jovem Pan

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