Chilenos elegem redatores da nova Constituição e impõem derrota ao governo

A coalisão de centro-direita "Chile Vamos", apoiada pelo presidente Sebastián Piñera, foi a grande derrotada das eleições

Após dois dias de eleição histórica, os chilenos escolheram os 155 legisladores que serão responsáveis por redigir uma nova Constituição em substituição à que foi herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). As seções eleitorais encerraram neste domingo, 16, e a apuração de 99,9% das cédulas pelo Serviço Eleitoral do Chile indica uma derrota para o governo, que não conseguiu garantir nem um terço dos assentos. Os candidatos apoiados pelo presidente Sebastián Piñera, que foram reunidos na coalisão de centro-direita “Chile Vamos”, conquistaram apenas um quinto das vagas. A maioria dos legisladores serão, na verdade, candidatos independentes ou da oposição. O grupo, que já previa paridade entre homens e mulheres e 17 assentos reservados aos povos indígenas, terá um mandato de dois anos para elaborar o novo documento. Essa será a primeira vez em 200 anos de independência que o Chile terá uma Lei Fundamental elaborada por uma convenção de cidadãos eleitos, já que os três textos que teve até agora (de 1833, 1925 e 1980) foram redigidos por órgãos não escolhidos pelo voto popular.

Mais de 6 milhões de pessoas participaram das históricas eleições constituintes do Chile, que, por causa da Covid-19, foram dividas entre os dias 15 e 16 para evitar aglomerações. Algumas seções eleitorais, especialmente na capital Santiago, não puderam fechar às 18h porque havia muitas pessoas esperando na fila e as leis impedem que lhes seja negado o voto. Na noite de sábado para domingo, as urnas eram lacradas e transferidas para salas trancadas, onde permaneceram sob a guarda de 23 mil militares. Representantes de diferentes partidos e candidatos independentes também puderam permanecer nos locais durante a noite para garantir que ninguém tivesse contato com as urnas de voto, provando assim que o processo foi transparente. A revogação da atual Constituição, foco de críticas por sua origem ditatorial e seu viés neoliberal, foi decidida em plebiscito histórico em outubro de 2020. A criação de uma nova Carta Magna era uma das principais exigências dos protestos de 2019, que deixaram cerca de 30 mortos e milhares de feridos e foram os mais graves desde o regime militar.


Fonte: Jovem Pan

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