Com variantes da Covid-19, imunidade coletiva não será alcançada, dizem especialistas

Coronavírus deve se tornar um vírus endêmico, assim como a influenza e o H1N1

A “imunidade de rebanho” acontece quando uma população é exposta a determinado vírus e, a partir do contato com o patógeno, as pessoas vão adquirindo uma imunidade natural, protegendo indiretamente aqueles que não foram contaminados. Um estudo realizado pelo Instituto Butantan no município de Serrana, feito com a vacina CoronaVac e que teve os resultados divulgados em maio deste ano, apontou que a pandemia poderia ser controlada e a transmissão comunitária interrompida com cerca de 75% da população vacinada. Para Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), essa meta é “inalcançável”. “O conceito, ao meu ver, completamente equivocado que muitos vinham defendendo, nunca foi algo alcançável”, diz o médico. A infectologista Ingrid Cotta da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, por sua vez, acredita que o termo “imunidade de rebanho”, que vem sendo popularmente propagado, é inadequado e “politicamente problemático”. “A imunidade de rebanho é um termo que não é adequado se usado para a Covid-19. Pode até ser usado para outras doenças que tenham taxa de mortalidade menor. Entretanto, quando a gente pensa na Covid-19, é inadmissível esperarmos que todo mundo se contamine e que esse percentual de pessoas morram para que, então, proteja-se alguém”, afirma.

Os especialistas ainda argumentam que as muitas variáveis ao redor da pandemia dificultam um cálculo exato de qual seria a porcentagem de vacinados suficiente para evitar a propagação da doença. Renato Kfouri elenca três pontos para justificar a impossibilidade de uma imunidade coletiva: o fato da Covid-19 ser uma doença zoonótica, a alta taxa de mutação do coronavírus e a inexistência de uma vacina que previna 100% as infecções. O primeiro é que a Covid-19 uma doença zoonótica, ou seja, ela não atinge só seres humanos. O coronavírus atinge morcegos, cobras, animais aquáticos, camelos. Então não é um vírus exclusivo do ser humano”, pontua. Dessa forma, mesmo com a vacinação em humanos, o coronavírus continua circulando em outras espécies. “O segundo ponto é que o coronavírus sofre mutações. As variantes vão surgindo e conseguem escapar, tanto da imunidade induzida por uma infecção natural quanto da imunidade eventual das vacinas. Do jeito que surgiu a Delta, outras variantes vão surgir e vão continuar surgindo. Então o coronavírus é um vírus que muta e o conceito de imunidade de rebanho é alcançado com vírus estáveis, como sarampo, rubéola e outras doenças, vamos dizer, erradicáveis”, explica o presidente da SBIm.


Fonte: Jovem Pan

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