Em meio às preocupações pelo surgimento de novas variantes do coronavírus – algumas delas mais letais ou transmissíveis, países enfrentam um novo alerta de saúde: o avanço suspeito da mucormicose na Índia, especialmente em pacientes infectados pela Covid-19 ou recém-recuperados. Os registros iniciais da doença em estados indianos foram identificados próximos ao dia 21 de maio, quando anunciaram 90 óbitos em decorrência da enfermidade. Cinco dias depois, nove mil infecções já haviam sido identificadas e, agora, cerca de 18 dias após as primeiras ocorrências, 28 mil indianos já foram diagnosticados com a mucormicose. A doença, causada por um fungo da família Mucorales, é também conhecida popularmente como fungo negro, ou fungo preto, nome atribuído pela característica da enfermidade, que pode causar, entre outras coisas, febre, perda de visão e destruição do céu da boca, dos ossos faciais e do septo, explica o biólogo e neurocientista Fabiano de Abreu. “O tecido morto fica escuro e a infecção no cérebro pode provocar dificuldade de usar e entender linguagens, causar convulsões, paralisia facial, pode prejudicar a memória e pode levar também ao coma”, relata o especialista. Segundo ele, a doença têm altos índices de letalidade, que podem chegar a 50% de riscos aos pacientes.
O biólogo explica que a enfermidade atinge principalmente pessoas com problemas de imunidade, minimizando as chances de uma pandemia do fungo negro. “A doença é adquirida quando esporos produzidos pelo bolor são inalados ou quando entram no corpo por corte ou laceração. Ou seja, você não vai ser contaminado no ar, como outros vírus influenza, por exemplo”, explica Fabiano de Abreu. No entanto, ele alerta que a preocupação atual é com a possível ligação entre a Covid-19 e o aumento de casos da mucormicose. Embora não exista, até o momento, uma relação direta entre as doenças, as consequências do coronavírus para o sistema imunológico podem facilitar o desenvolvimento da enfermidade, tornando o quadro do paciente “bastante arriscado” e aumentando o risco de morte.
“As pessoas respiram, provavelmente, sempre os esporos desses bolores, mas a diferença é quando você tem a infecção e tem outra doença que pode afetar o sistema imunológico. Pessoas que não têm Covid e não têm doenças que possam deixar a imunidade frágil, elas podem pegar a doença e não sentir nada. A Covid-19 enfraquece o sistema imunológico e isso coloca em risco, assim como é arriscado em pessoas com câncer. Diabetes não controlada também é um fator de risco. A gente tem que pensar na mucormicose como algo relacionado ao sistema imunológico. Se ele está fortalecido, você pode pegar e não acontecer nada. Se está enfraquecido, ele [fungo negro] se torna muito perigoso”, disse. No caso, para uma pessoa infectada pela Covid-19, o especialista considera que o quadro se torna “muito mais perigoso”.
Quanto aos possíveis motivos que levaram ao recente aumento de casos da doença na Índia, o microbiologista nega que o crescimento tenha relação com o colapso do sistema funerário no país, que teve corpos de vítimas da Covid-19 sendo deixados no Rio Ganges e recolhidos por redes. Por outro lado, Fabiano de Abreu afirma que a prática de parte dos indianos de cobrir o corpo com esterno de vaca, como tratamento para a Covid-19, pode ter contribuído para a alta da mucormicose. “Eles estavam usando esterco de vaca, fezes de vaca, a vaca é sagrada para eles, como uma cura para a Covid-19. Esse tipo de hábito pode trazer essas consequências”, conclui. Na quarta-feira, 9, médicos do Hospital Choithram, na Índia, relataram ter detectado o fungo negro no pâncreas de um paciente recém-recuperado da Covid-19, sendo provavelmente o primeiro caso de uma pessoa detectada com o fungo no órgão, informou Ajay Jain, chefe do departamento de gastroenterologia do hospital, ao jornal Times of India. Médicos de outros hospitais indianos também relatam casos do fungo negro atingindo o estômago, o intestino e os pulmões. No entanto, as causas do aumento da mucormicose na Índia continuam desconhecidas.
Fonte: Jovem Pan