A Agência da ONU para Refugiados (Acnur) informou que o número de pessoas deslocadas à força, ou seja, que tiveram que deixar suas casas por causa de perseguições, conflitos, violações dos direitos humanos ou questões ambientais ultrapassou os 80 milhões em 2020. Esse total, um recorde histórico que representa cerca de 1% da população mundial, inclui tanto os 45,7 milhões que permaneceram dentro do seu país, quanto os 29,6 milhões de refugiados que saíram dele e os outros 4,2 milhões requerentes de asilo. O valor é quase o dobro em relação há dez anos e está dentro de uma tendência de aumento, mas pode ter sido agravado pela pandemia de coronavírus. “Ela adicionou uma nova camada de vulnerabilidade a situações já de extrema instabilidade. É uma nova emergência dentro de crises que já existiam”, afirmou o porta-voz da Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho Santos, em entrevista à Jovem Pan. Ou seja, a crise da Covid-19 não foi capaz de parar a guerra civil na Síria ou a crise política e econômica na Venezuela, tampouco os conflitos no Afeganistão, no Sudão do Sul e no Myanmar, que completam a lista dos cinco principais países de origem dos refugiados em 2019. No primeiro semestre de 2020, também chamou atenção a quantidade de deslocados na República Democrática do Congo, no Moçambique, na Somália e no Iêmen, onde muitas pessoas se dirigiram à região do Sahel Central da África devido à casos de violência brutal, estupros e execuções em seus países de origem.
No entanto, as restrições de circulação para conter a disseminação do novo coronavírus conseguiram dificultaram ainda mais a vida dessas pessoas. “No auge da primeira onda da Covid-19, dos mais de 160 países que fecharam suas fronteiras, 90% não fizeram exceções para pessoas que buscavam asilo. Isso comprometeu – e continua comprometendo – consideravelmente o sistema internacional de proteção dessas pessoas”, afirmou Santos. De acordo com o representante da Acnur, o ritmo de reconhecimento da condição de refugiado continua mais lento, apesar de cerca de 100 países já terem encontrado maneiras de retomar suas políticas de recepção dessas pessoas. O Brasil está entre eles: o país seguiu aprovando ao longo de 2020 os pedidos de reconhecimento da condição de refugiados feitos pelos venezuelanos, que representam 46 mil do total de 50 mil refugiados no país, que possuem acesso a políticas públicas universais, documentações e serviços.
Fonte: Jovem Pan