Em mais uma reviravolta no tabuleiro político, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), renunciou ao comando do Palácio dos Bandeirantes e anunciou que manterá sua pré-candidatura à Presidência da República. “Sim, serei candidato à Presidência da República pelo PSDB, o nosso partido, e juntos, ao lado de outros partidos, de políticos e de pessoas que têm respeito pela democracia, pela vida e pelos cidadãos, nós vamos vencer o populismo, a maldade e a corrupção”, declarou. Em um discurso na sede do governo paulista, precedido por manifestações de integrantes de sua gestão, como o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, e de gritos de “Brasil, à frente, Doria presidente”, o tucano fez críticas aos governos do PT e do presidente Jair Bolsonaro, além de ter exaltado o vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), que assumirá o comando da máquina do Estado de São Paulo no dia 2 de abril. “Daqui para frente nosso trabalho continua em São Paulo pelas mãos experientes e competentes de Rodrigo Garcia, que a partir do próximo dia 2 será governador do Estado de São Paulo, e será reeleito. Quero estar ao lado de vocês a partir do próximo dia 2 para mostrar que é possível, sim, ter uma nova alternativa para o Brasil, uma alternativa de paz, de trabalho, de dedicação, de humildade e de integração de todo o Brasil”, acrescentou.
Doria aproveitou o feito para enaltecer feitos de seu governo nas áreas da educação, segurança pública e economia. Um vídeo transmitido no início da coletiva fez uma retrospectiva da pandemia de Covid-19 e da vacinação no Estado, em uma sinalização de que este deve ser o principal mote da campanha do tucano ao Planalto. O governador chorou e ficou com a voz embargada algumas vezes durante o pronunciamento, principalmente nos momentos em que citou a família. O gestor paulista também classificou o atual cenário eleitoral como uma disputa de “rejeitados”. “Pesquisas mostram que nem Bolsonaro, nem Lula têm a confiança dos brasileiros. Nós estamos em uma disputa de rejeitados. A desaprovação de um e de outro é o que alimenta o voto de um contra outro, e não o voto a favor. Agora é hora do voto ser a favor do Brasil”, ressaltou.
Se publicamente o evento mostrou um PSDB unido, nos bastidores o clima no tucanato não foi nada ameno nas últimas horas. Ao sinalizar a aliados, na noite da quarta-feira, 30, que poderia desistir de sua pré-candidatura à Presidência, Doria desencadeou mais uma crise dentro do partido. Aliados foram pegos de surpresa e ameaçaram romper com o vencedor das prévias. A decisão de não concorrer ao cargo mais importante do país e permanecer à frente do governo paulista até o final do ano também causou consequências no Palácio dos Bandeirantes. Segundo apurou a Jovem Pan, Rodrigo Garcia chegou a pedir demissão da Secretaria de Governo, coração da administração do Estado, e discutiu com interlocutores a possibilidade de migrar para o União Brasil. Internamente, o movimento de Doria foi visto como uma forma de conquistar o apoio da cúpula do partido à sua candidatura – patinando nas pesquisas de intenção de voto, o governador de São Paulo convive com a resistência de uma ala da sigla que rejeita sua postulação e defende o nome de Eduardo Leite, que renunciou ao governo do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira, 31.
No início da tarde, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, enviou uma carta aos principais líderes da sigla na qual afirmava que Doria era o candidato da legenda e que o resultado das prévias seria respeitado. “O governador tem a legenda para disputar a presidência da República. E não há, nem haverá qualquer contestação à legitimidade da sua candidatura pelo partido”, declarou o cacique. Horas depois, aliados sinalizavam que o governador paulista recuaria da decisão e manteria sua postulação. Coincidência ou não, o recuo passou a ser especulado no momento em que o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro oficializou sua filiação ao União Brasil e a desistência, “neste momento”, de sua pré-candidatura à Presidência. Embora não tenha alcançado os dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto, Moro aparecia numericamente à frente de Doria nos levantamentos.