O presidente Emmanuel Macron admitiu nesta quinta-feira, 27, que a França possui “responsabilidade” pelo genocídio perpetrado em Ruanda em 1994, que causou o extermínio de 800 mil tutsis e hutus. A afirmação foi feita durante um discurso solene no Monumento ao Genocídio em Kigali, onde são guardados os restos morais de cerca de 250 mil vítimas, e acontece em meio a uma visita histórica que visa normalizar as relações entre os países. Macron ressaltou que os franceses não tiveram cumplicidade com “os assassinos que percorriam os pântanos, as montanhas, as igrejas”, mas reconheceu que o seu país teve “um papel, uma história e uma responsabilidade política” na nação africana e possui agora o dever de “enfrentar a história e reconhecer a quantidade de sofrimento que infligiu ao povo de Ruanda, fazendo prevalecer o silêncio sobre o exame da verdade durante demasiado tempo”. “A França não ouviu a voz daqueles que a tinham advertido, ou então superestimou sua força ao pensar que podia parar o pior. A França não compreendeu que, ao querer evitar um conflito regional ou uma guerra civil, estava de fato do lado de um regime genocida. Ao ignorar os avisos dos observadores mais lúcidos, a França assumiu uma responsabilidade esmagadora em uma espiral que levou ao pior, mesmo procurando justamente evitá-lo”, completou o presidente francês, que depositou uma coroa de flores no monumento, perante o qual se curvou logo em seguida.
Emmanuel Macron chegou à Ruanda na manhã desta quinta-feira, 27, e foi recebido pelo presidente Paul Kagame. A França não tem embaixador no país africano atualmente, mas sua legação diplomática já está funcionando normalmente ali e há planos para nomear um embaixador em breve, o que concluiria esta “fase final da normalização” das relações bilaterais. O último presidente francês a viajar para Ruanda foi Nicolas Sarkozy em fevereiro de 2010, em uma visita durante a qual admitiu “graves erros políticos” da França antes e durante o massacre. As relações diplomáticas entre os países tinham sido retomadas pouco tempo antes, no final de 2009. Antes disso, houve uma interrupção de três anos em que o governo francês acusava Kagame e outros rebeldes tutsi de abaterem o avião que transportava o então presidente ruandês, Juvénal Habyarimana, e seu homólogo do Burundi, Cyprien Ntaryamira, ambos de etnia hutu, em 6 de abril de 1994. O evento levou ao início do genocídio logo no dia seguinte.
Fonte: Jovem Pan