Empresário diz que não investiu em propaganda de ivermectina, mas bancou anúncio publicado em jornais

Depoimento de Jailton Batista à CPI da Covid-19 durou aproximadamente seis horas

Em seu depoimento à CPI da Covid-19, o diretor-executivo da Vitamedic Indústria Farmacêutica, Jailton Batista, reconheceu que a ivermectina, produzida por sua empresa, não tem eficácia para o tratamento de pessoas infectadas com o novo coronavírus, mas, mesmo assim, admitiu que a farmacêutica bancou a propaganda da associação Médicos Pela Vida em defesa do chamado “tratamento precoce”, uma das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro, desde o início da crise sanitária. Em um intervalo de um ano, as vendas deste medicamento por parte da companhia aumentaram 1.105%.

Segundo Jailton Batista afirmou aos senadores, o faturamento da Vitamedic aumentou mais de 29 vezes entre 2019, antes da pandemia, e 2020, já durante a crise sanitária. Neste intervalo de tempo, as vendas saltaram de R$ 15,7 milhões para R$ 470 milhões. Ele alegou que a empresa apenas atendeu a uma demanda do mercado, mas a organização gastou R$ 717 mil com um informe publicitário de meia página, publicado em oito jornais de circulação nacional no fim de fevereiro, sem nenhum estudo que atestasse a eficácia do fármaco. Além disso, a Merck, detentora da patente da ivermectina, emitiu uma nota pública na qual afirma que o vermífugo é ineficaz para o tratamento da Covid-19. “À Vitamedic foi solicitada o apoio da Associação Médico Pela Vida no patrocínio de um documento técnico-médico e ela o fez”, disse o depoente. “Foi a publicação nos jornais do manifesto da associação que a empresa assumiu o custo da veiculação”, acrescentou.

Em vários momentos da sessão, os senadores criticaram a atuação da Vitamedic. Para o relator da CPI da Covid-19, Renan Calheiros (MDB-AL), “vai sobrar para a indústria o pagamento das óbvias indenizações” às vítimas de pessoas que foram tratadas com a ivermectina. “Alguém vai ter que pagar esses custos. Como ela [Vitamedic] não pode dimensionar qual foi o impacto [das falas do presidente Jair Bolsonaro na defesa do medicamento] na evolução da venda e da produção [do medicamento], vai sobrar para a indústria o pagamento dessas óbvias indenizações. Essa terá que ser uma das consequências desta CPI. Talvez por isso, tenhamos que ouvir, na sequência, o proprietário da empresa. Isso é fundamental”, disse o emedebista.


Fonte: Jovem Pan

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