Depois de pegar Covid-19 em julho de 2020, a professora Marília Fátima de Oliveira começou a perceber alguns sintomas estranhos. De um dia para o outro, ela passou a ter lapsos de memória, e esquecer, por exemplo, nomes de livros e de autores que cita há anos em suas aulas, além de não lembrar de frases completas. Mesmo com o grande nível de esquecimento, demorou para que Marília entendesse que o problema era uma sequela da infecção pelo coronavírus. “Eu pensei ‘será que estou com Alzheimer’? Eram uns brancos, dava um branco, totalmente branco, não sei o que foge. É como se a linguagem, que é o meu instrumento de trabalho, fugisse do meu cérebro. É assustador.”
As disfunções cognitivas em pessoas que tiveram a doença, no entanto, são mais comuns do que se imagina. Desde março do ano passado, o Instituto do Coração de São Paulo realiza uma pesquisa inédita no mundo com esses pacientes. Segundo o estudo, a doença causou dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória, problemas com a compreensão, confusão e até perda da coordenação motora em 80% das pessoas. A neuropsicóloga do InCor e responsável pela pesquisa, Lívia Stocco Sanches Valentin, explica que as sequelas são independentes do nível de gravidade da Covid-19 e ainda não se sabe quanto tempo podem permanecer. “Não interessa se é grave, moderado ou assintomático e sim de pessoa para pessoa. Ninguém está dando o devido valor para o pós-Covid, o que fazer para as pessoas que tiveram a Covid e as sequelas que ela deixa.”
Fonte: Jovem Pan