Experiência de vendedor ambulante e astróloga ajudaram a compor novo álbum de Xamã

Xamã fez parcerias com Marília Mendonça e Luísa Sonza

Quando passava de vagão em vagão dos trens do subúrbio carioca vendendo balas e amendoim, o rapper carioca Xamã, de 31 anos, fez algumas descobertas que usa até hoje. Para vender – seja guloseimas ou música – é preciso seduzir o cliente. Batizado como Geizon Carlos da Cruz Fernandes, ele conseguiu levar seu flow – a maneira como a letra se encaixa à batida, que o fez ser apontado como um dos mais promissores de sua geração – para além da periferia e das batalhas de rima que participava em Campo Grande, Bangu e São Gonçalo. O artista, atualmente, usa o aprendizado do trato diário com o público, além de filmes e gibis que fizeram parte da sua adolescência, a serviço da música. O mais recente álbum do rapper, “Zodíaco” (Bagua Records), acaba de sair e traz doze músicas, uma para cada signo. O rapper já havia feito algo parecido em seu primeiro trabalho, Pecado Capital, de 2018, quando dedicou um rap para cada desvirtude humana (segundo a visão da Igreja Católica). No álbum seguinte, “O Iluminado”, de 2019, escreveu canções inspiradas em filmes como “American Pie”, “Matrix”, “Central do Brasil” e ao estrelado pelo ator Jack Nicholson, que dá nome ao disco. “Os discos anteriores olhavam para fora, esse é para dentro. Quis fazer algo mais particular, para chegar a cada pessoa. Já tinha essa ideia há cerca de um ano. Com a quarentena, presos em casa, me observei, observei os outros, e percebi que a gente ficou carente para caramba. O ser humano sempre olhou para o céu e buscou explicação por meio das estrelas, dos astros, da Lua, do Sol. Senti-me mais completo me dedicando ao tema”, justifica, sobre a escolha da vez.

Ele conta que tudo o que sabia sobre o assunto era o que tinha aprendido no desenho “Os Cavaleiros do Zodíaco” e nas seções dedicadas ao assunto nos jornais. Nada muito aprofundado. Para transformar a ideia do álbum em algo concreto, contou com a ajuda de uma astróloga, que lhe ensinou as características de cada signo e o que significavam os elementos água, terra, fogo e ar no zodíaco, além de fazer um mapa astral. “Sou de escorpião, com ascendente em gêmeos e lua em escorpião”, diz. Assim, construiu as letras e as melodias, que trazem, além do rap, influências do pop, do rock, do funk, do pagode – de acordo com o que o signo indica e os elementos naturais que eles representam. Os versos falam de amor e, por vezes, são carregados de sensualidade. O que ele descreve como “viscerais tempestades em copo de água”.

“Quando eu trabalhava na rua, vendia doce, bala, amendoim. Hoje, meu produto é a minha arte. Faço tudo voltado para a linguagem popular brasileira, do que o povo fala nas ruas. O importante é me comunicar com todos, com todas as classes sociais. Minhas músicas, no geral, são ‘eu e você’, independentemente do sexo do ouvinte. Isso é a verdadeira MPB, a música popular brasileira que toca nas ruas. Roberto Carlos sabe disso há muito tempo.” Touro, por exemplo, que é terra, traz uma batida mais pesada – e aborda a teimosia e a sensualidade dos taurinos – com uma pegada roqueira, ritmo pelo qual Xamã expressa admiração. “Eu queria ter uma banda de rock, mas aí são seis malucos para sair em turnê, né? Com o rap é só você e o DJ”, brinca o artista, que admira Jimi Hendrix, Janis Joplin, Led Zeppelin, Pink Floyd, Nirvana, Raul Seixas, Legião Urbana e Charlie Brown Jr.


Fonte: Jovem Pan

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