Joice Hasselmann diz que Bolsonaro deve perder apoio do Centrão até outubro: ‘É uma base alugada’

De saída do PSL, Joice Hasselmann é pré-candidata ao Senado em 2022

Na quarta-feira, 30, enquanto senadores e espectadores da CPI da Covid-19 ouviam o empresário Carlos Wizard repetir, incessantemente, que permaneceria em silêncio e não responderia às perguntas sobre o seu envolvimento com o chamado “gabinete paralelo” ao Ministério da Saúde, partidos políticos, parlamentares e representantes da sociedade civil protocolavam, na Câmara dos Deputados, o “superpedido” de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O texto possui 45 signatários e unifica os argumentos apresentados em outros 123 pedidos. Além do simbolismo do documento de 271 páginas, um fato chamou a atenção de quem acompanhava aquela coletiva de imprensa: em um mesmo ato, estavam, lado a lado, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, líderes de siglas de esquerda, e os deputados federais Kim Kataguiri (DEM-SP) e Joice Hasselmann (PSL-SP).

Mulher mais votada para a Câmara dos Deputados em 2018 e a segunda com mais votos entre os 513 membros da Casa, Joice Hasselmann foi uma das aliadas de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro. Em dois anos e meio de mandato, foi líder do governo no Congresso, líder do PSL, partido pelo qual o chefe do Executivo federal foi eleito, e chefe da Secretaria de Comunicação da Câmara. Hoje, porém, pede a saída do partido por “justa causa” e é tida como arqui-inimiga do núcleo duro do bolsonarismo. À Jovem Pan, Hasselmann explica por que assinou o superpedido de impeachment, fala sobre seu futuro político e a viabilidade da terceira via para a eleição presidencial de 2022. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Por que a senhora decidiu subscrever este superpedido de impeachment? Eu já havia apresentado um pedido na época da saída de Sergio Moro, então, a ideia não saiu da cartola, não surgiu do dia para a noite. À época, a argumentação foi a interferência escancarada na Polícia Feral. Quando chegamos à marca de uma centena de pedidos parados na gaveta da Câmara, sem o Rodrigo Maia ou o Arthur Lira fazerem nada, surgiu esta ideia e o Freixo [deputado federal pelo PSOL] me procurou e disse para deixarmos as diferenças de lado. Isso foi antes desse escândalo da Covaxin, o “Covaxingate”. Começamos a trabalhar com o novo pedido, com muito cuidado, para que fosse retirado o tom ideológico dos pedidos da esquerda, a oposição natural ao governo. O meu pedido, os pedidos do Frota [deputado federal pelo PSDB] e o pedido do MBL eram pedidos técnicos. O excesso de ideologia foi retirado para atender a todos. No meio disso, explodiu o escândalo do superfaturamento das vacinas. E aí percebemos que o presidente não foi apenas negacionista. Ele foi “negocionista”: foram criadas facilidades para que ganhassem dinheiro em cima da vida dos mais de 500 mil brasileiros que perderam a vida. Seria hipocrisia da minha parte cruzar os braços só porque gente da esquerda assinou o pedido.

Em algum momento da sua vida a senhora se imaginou no mesmo palanque da deputada Gleisi Hoffman e de outros parlamentares de esquerda, como o deputado Alessandro Molon? Não era palanque. Era uma coletiva de imprensa. E eu fiz questão de frisar que estávamos retirando a questão ideológica. Mas jamais imaginei estar com eles em um ato, qualquer um que fosse. Para você ter uma ideia da situação do Brasil. Em qualquer país sério, Bolsonaro já teria sido apeado do poder e preso. Ele e seus filhos. A situação é tão absurda e inimaginável que ele coloca uma pessoa assumidamente de direita ao lado de uma esquerda que sempre combati. Eu saí do armário da jornalista isenta e assumi a bandeira pelo impeachment da Dilma, rodei o país lutando por isso, mas agora milito pelo impeachment de Bolsonaro. Eu não posso ser coerente apenas com meus inimigos ideológicos. Tenho que ser coerente e combater os crimes que ocorrem, também, no meu espectro ideológico.

A senhora foi líder do governo no Congresso e representava o governo em um momento em que a relação com o Parlamento não era amistosa. De lá para cá, Bolsonaro enfrentou diversas crises. É o pior momento do presidente no cargo? Sim. Na época em que eu liderava o governo e carregava o time nas costas, não havia essa dita base e mesmo assim conseguimos milagres políticos. Entreguei a reforma da Previdência e tive votos na oposição, fruto de um trabalho de 20 horas por dia. De lá para cá, as vitórias foram na base do toma lá, dá cá. Além de ser um governo incompetente, é o governo de uma toupeira. Sabíamos que ele era toupeira, mas descobrimos que a toupeira é desonesta.

A maioria dos signatários do pedido são ligados a partidos de esquerda, mas a senhora, o deputado Kim, ligado ao MBL, e o deputado Alexandre Frota, hoje no PSDB, também assinaram. Esse ato pode ser uma semente para que a direita e a centro-direita também endossem esta causa? É uma semente. Depois que viram que lá estavam outros dois representantes da direita, o PSDB se posicionou pelo impeachment, convocou as pessoas a irem para as ruas. Precisamos nos posicionar e ter coragem. É difícil se posicionar não sendo a oposição natural, mas as pessoas estão descendo do muro. Eu acredito que haverá um levante no Brasil, uma união de pessoas que pensam no país, alinhados com o centro, com a centro-direita e com os conservadores de verdade, não os reacionários, como são os bolsonaristas.

A senhora vai participar dos atos contra o presidente neste sábado? É difícil participar dos atos, neste momento, por conta da aglomeração. Eu não posso criticar a aglomeração e a conduta do presidente, mas aglomerar. Mas a imunização está em ritmo acelerado aqui em São Paulo. Assim que houver mais pessoas imunizadas, podemos convocar os atos e contar com a participação dos que estarão imunizados. Acredito que com mais 10 dias teremos um cenário melhor.

O casamento do governo com o Centrão nos faz pensar que não há votos para o impeachment. Na avaliação da senhora, quais as chances de um processo prosperar? Não é casamento, é um contrato de aluguel. Bolsonaro paga aluguel ao Centrão para permanecer na presidência. Isso custa caro. Envolve bancos públicos, estatais, cargos, ministérios. Isso custou R$ 200 bilhões ao país. Ele paga para permanecer, é uma base alugada, não comprada. Uma hora esse dinheiro vai secar. É impossível manter isso. Com o desgaste do presidente e os resultados apontados pelas pesquisas com o mínimo de seriedade, o Centrão fará o que sempre fez: vai tirar tudo o que pode, vai trazer pra si as emendas e os espaços e, quando presidente perder o poder de pagar aluguel, pularão do barco. Acredito que teremos esse cenário até outubro deste ano.


Fonte: Jovem Pan

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