O ex-juiz e ex-ministro da Justiça, atual pré-candidato à presidência da República, Sergio Moro (Podemos) concedeu uma entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta quinta-feira, 24, para comentar as últimas movimentações políticas do cenário eleitoral. Ele criticou os seus dois principais oponentes, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-chefe do Executivo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparecem em como os melhores colocados nas pesquisas de intenção de voto para outubro de 2022. Segundo Moro, ambos não oferecem propostas que desenvolva o que o Brasil mais precisa neste momento: crescimento econômico e emprego.
“Nós precisamos retomar o crescimento econômico com responsabilidade social, com responsabilidade fiscal, e precisamos ter políticas econômicas sérias que não coloquem os nossos cofres públicos reféns desse Centrão político. O que a gente está vendo hoje, aparentemente o governo tá com essa política de gastar o quanto for possível para ganhar a eleição e a gente sabe que essa contra vem depois, isso não resolve os nossos problemas. Nós precisamos retomar aquele espírito de reformas. Precisamos fazer as reformas para modernizar o país e voltar a ter empregos. A solução pra esses problemas não é a volta à década de 1970, uma política econômica da década de 1970, como quer o Lula, e nem a política econômica atual do governo, que nos levou à estagnação e provavelmente está nos levando a uma recessão deste ano. Nós precisamos ter um governo voltado para o futuro, para inserção do Brasil nas cadeias produtivas do mundo, para gente poder voltar a crescer. As pessoas querem emprego e crescimento econômico. Nem Lula, nem Bolsonaro oferecem isso”, afirmou Moro.
O ex-ministro ainda se disse favorável à privatização da Petrobras para tentar resolver o problema dos combustíveis, que afeta toda a cadeia produtiva e aumenta a inflação dos produtos, dificultando a vida econômica da população brasileira. “Sou favorável a privatização da Petrobras, o Estado tem um papel regulador do mercado, mas pode diminuir a sua participação na produção de bens e serviços. No fundo, a questão do preço dos combustíveis é bastante complexa para ser resolvida, nós temos esse cenário de aumento dos preços mundiais. Mas estaríamos melhores se o governo atual não tivesse deixado a inflação se descontrolar. Porque o problema hoje não é só o combustível, o problema hoje aparece quando a gente vai no supermercado. Não é só o preço da gasolina que subiu. É o preço também dos produtos alimentícios. Se a gente for deixar a inflação se descontrolar e, como resultado, ter essa elevação enorme dos juros no país, nós não vamos conseguir gerar as condições necessárias para o Brasil voltar a crescer e, com isso, voltar a ter empregos, que é o que principalmente a população quer”, pontuou.
Moro ainda criticou os oponentes em outras questões, como a falta de posicionamentos mais firmes diante da situação da guerra entre Rússia e Ucrânia, no Leste Europeu. “É estranho ver que os dois espectros políticos, os extremos, tanto o Bolsonaro quanto o Lula, são incapazes de condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Claro que a gente tem interesses comerciais, é claro que a gente quer ter boas relações com todos os países. Mas será que a gente não consegue numa situação dessas dar uma declaração em favor da soberania de um país invadido? E será que isso não deteriora nossas relações com países que nós queremos estar próximos? Veja, por exemplo, a importância para o Brasil de ter a ratificação do tratado Mercosul-União Europeia. Isso é importante para abrir mercados do exterior para os nossos produtos, especialmente pra nossa agropecuária. Enquanto for o governo Bolsonaro é muito difícil que isso aconteça, porque a imagem está muito negativa. E essa posição atual de não condenar praticamente a invasão da Ucrânia, tanto por Bolsonaro como Lula, não gera uma perspectiva positiva em relação a esse tratado. O Brasil é melhor do que isso. O Brasil tem valores democráticos. Mas o Brasil precisa adotar uma posição mais responsável no mundo em relação a esses temas”, falou o ex-juiz.
Combate à corrupção
Moro se disse o único pré-candidato à presidência que defende a luta contra a corrupção no país e criticou os posicionamento do governo Bolsonaro diante da questão, no que chamou de “completo abandono do combate à corrupção”. Segundo ele, o problema não está na queda na corrupção, mas na queda na investigação de casos de corrupção, já que não seria plausível supor que a corrupção acabou no país. “São dados estatísticos, as prisões por corrupção caíram abruptamente em 2021. Eu duvido que você consiga nominar alguém, seja no governo federal, seja em governos estaduais ou seja em governos municipais, alguém relevante que tenha sido preso e investigado por grande corrupção. Não adianta prender o guarda da esquina ou um pequeno burocrata em alguma repartição pública. Não existe ninguém. Não está havendo investigações hoje sobre corrupção. A gente acreditar que de repente a corrupção sumiu do país? É claro que isso não aconteceu e são os dados estatísticos que apontam que as prisões corrupção caíram abruptamente em 2021”, disse.
Moro continuou: “A Polícia Federal hoje não tem autonomia pra fazer investigação em relação à corrupção para pegar gente graúda. Quando se aproxima de gente graúda, normalmente, o que a gente está vendo infelizmente, é alguma movimentação, gente sendo transferida para cá ou para lá. E a coisa não anda (…) Nós tivemos três trocas de diretores da Polícia Federal nesse governo. Nós tivemos trocas e afastamentos de superintendentes, de delegados, e nós não estamos vendo nenhuma investigação por crime de corrupção relevante no país. Agora surgiu esse escândalo no Ministério da Educação de intermediação de verbas da Educação para prefeituras (…) Nós precisamos ter uma investigação sobre esse fato. Eu espero que haja essa investigação e se Polícia Federal e Ministério Público estiverem trabalhando a sério, é importante que esse trabalho gere resultados. Nós hoje vemos uma situação de completo abandono do combate à corrupção. Foi, aliás, o que permitiu retorno à política do ex-presidente Lula. Foi esse ambiente leniente com a corrupção que favoreceu o ressurgimento do Lula, o que diz muito a respeito do que está acontecendo no nosso país. Precisamos dar a volta por cima. Precisamos discutir nessa campanha eleitoral de 2022 discutirmos que espécie de país nós queremos ter: uma terra sem lei, um país de bandido, ou nós queremos voltar ao tempo em que nós combatíamos a corrupção e, inclusive, éramos elogiados internacionalmente a esse respeito? Um período que o brasileiro tinha orgulho de dizer que era brasileiro. É isso que nós precisamos voltar a ter no Brasil”.
“O que a gente está vendo dos três poderes, de parte do Supremo Tribunal Federal, de parte do Congresso e do governo Bolsonaro é um completo abandono das bandeiras anticorrupção, inclusive muitas delas que levaram a eleição do presidente. O presidente hoje está abraçado com o Centrão político, inclusive com o Valdemar da Costa Neto (PL), que foi condenado por corrupção no caso do mensalão.
Condenação de Deltan Dallagnol
Sergio Moro ainda comentou a recente condenação de seu companheiro de partido, Deltan Dallagnol (Podemos), a pagar uma multa de R$ 75 mil por danos morais ao ex-presidente Lula. Dallagnol foi chefe da força-tarefa da Lava Jato. “Essa condenação é um absurdo, é um tapa na cara dos brasileiros. A gente sabe o que aconteceu no caso da Petrobras. E, agora, a gente vê que quem combateu a corrupção e se sacrificou, que o que o Deltan fez não foi isento de riscos em relação tanto à carreira dele como em relação a própria integridade dele, ele agora sendo punido por ter feito a coisa certa, por ter feito o seu trabalho. Isso reflete muito o estado atual do Brasil, no qual foi completamente abandonado o combate à corrupção”.
Lula e Alckmin
Sobre a filiação do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao PSB e sua provável entrada na chapa de Lula, como candidato a vice-presidente do Brasil, Moro disse não enxergar como um risco maior, já que as bandeiras levantadas na campanha e conduzidas no governo, naturalmente, serão comandadas por Lula. “Olha, eu acho que a entrada do Alckmin não muda nada na chapa do Lula. Quem vai ser o presidente no caso, se Lula for eleito, e não vai acontecer, vai ser o Lula e não o Geraldo Alckmin. Como explicar essas contradições? O Alckmin sempre foi um crítico severo do Partido dos Trabalhadores, o que parece um caso de oportunismo político. E o Lula com as declarações dele não reconhece os escândalos de corrupção da Petrobras, ou seja, parece que ele vai fazer tudo de novo. Porque se você não reconhece os erros do passado eles tendem a se repetir. [Lula] Fala em controle social da mídia, que é uma forma de defender veladamente a censura, impor conteúdo aos telejornais. Elogiou o Daniel Ortega, ditadura da Nicarágua. E no ponto de vista da política econômica, o que o Lula tem dito por aí, se ele realmente pretender fazer isso, vai ser um desastre econômico. Vão ser quatro anos, de novo, perdidos pelo Brasil. O fato de você chamar a pessoa X ou Y com vice não faz diferença”, finalizou.