O ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira, 28. Segundo apurou a Jovem Pan, o Ministério da Educação (MEC) deve ser assumido pelo secretário-executivo da pasta, Victor Godoy Veiga – a troca deve ser oficializada até o final desta semana, quando outros ministros do governo Bolsonaro deixarão seus cargos para disputar as eleições de outubro deste ano, conforme exige a legislação eleitoral. Parlamentares da bancada evangélica defendiam que ele se licenciasse enquanto durassem as investigações, mas questões jurídicas inviabilizaram esta solução. Ribeiro se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro nesta segunda, no Palácio do Planalto, e, de acordo com relatos feitos à reportagem, colocou o seu cargo à disposição. A saída do pastor presbiteriano, o quarto a ocupar o MEC desde o início da gestão, ocorre em meio a uma crise que atinge a pasta. Reportagens publicadas nas últimas semanas apontam a existência de um “gabinete paralelo” para o favorecimento de prefeituras indicadas por pastores. Em um áudio divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo, o ministro diz que uma de suas prioridades é atender às demandas de Gilmar Santos, um dos líderes da Assembleia de Deus. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar”, diz na gravação. Após a revelação da conversa, outras denúncias começaram a aparecer. Prefeitos relataram ter recebido pedidos de propina do pastor Arilton Moura para facilitar o repasse de verbas federais.
Bolsonaro resistia em tirar Milton Ribeiro do cargo. Em sua live semanal da quinta-feira, 24, o mandatário do país afirmou que “colocaria a cara toda no fogo” pelo ministro da Educação. A pressão, porém, se tornou insustentável. Na sexta-feira, 25, a Polícia Federal abriu dois inquéritos para apurar possíveis irregularidades envolvendo os pastores Gilmar e Arilton e o chefe do MEC. Ao autorizar a abertura de uma investigação sobre o caso, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que “o cenário exposto de fatos contrários à direito, à moralidade pública e à seriedade republicana impõe a presente investigação penal como atendimento de incontornável dever jurídico do Estado e constitui resposta obrigatória do Estado à sociedade, que espera o esclarecimento e as providências jurídicas do que se contém na notícia do crime”.
À Jovem Pan, uma importante liderança da bancada evangélica afirmou que os aliados do governo trabalharam nos últimos dias para convencer Bolsonaro da necessidade de afastar Milton Ribeiro do MEC. Ministros palacianos externaram preocupação com a repercussão do caso e líderes do Centrão, que dão sustentação ao governo no Congresso, avaliam que a permanência do ministro no cargo poderia causar danos à campanha pela reeleição. Sob reserva, um parlamentar da bancada evangélica reconheceu a existência do que chamou de “enrosco”. “Na quinta-feira, o presidente diz que coloca a cara no fogo pelo ministro. Na segunda, volta atrás e resolve demiti-lo? É esse o enrosco da vez. Bolsonaro está buscando uma saída honrosa para o ministro”, resume.
Além da avaliação de ministros e expoentes do Centrão, outro fator que influencia a queda de Ribeiro é a pressão de líderes evangélicos. “Situação horrível. História estranha. Nós evangélicos fomos atingidos frontalmente. Agora é aguardar as providências da justiça”, disse à Jovem Pan o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP). Mais cedo, em uma publicação em seu perfil no Twitter, Feliciano defendeu que o ministro se licenciasse. “Caro ministro. Por sua saúde emocional, por sua família que deve estar sofrendo, por nós evangélicos, que estamos sendo triturados, pelo presidente Jair Bolsonaro, que em um ano tão importante está sendo arrastado para essa história estranha, não retarde seu licenciamento”, escreveu. Também pela rede social, o pastor Silas Malafaia, subiu o tom: “Vergonha total. Ministro da Educação em foto com a esposa em Bíblia de pastor lobista do MEC. Tem que ser demitido para nunca mais voltar”, diz a publicação.
Malafaia em seu perfil no Twitter, nesta segunda-feira, 28. Malafaia faz alusão ao caso revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com a publicação, exemplares de uma edição da Bíblia com fotografias de Ribeiro e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura foram distribuídos em um evento organizado pelo MEC em Salinópolis, no Pará, cidade a 220 quilômetros de Belém, no dia 3 de julho do ano passado. A informação foi confirmada pelo ministro da Educação em seu perfil no Twitter. “Autorizei em 2021 o uso de minha imagem para a produção de algumas bíblias para distribuição gratuita em um evento de cunho religioso. Contudo, descobri no final de outubro de 2021 que bíblias com minha imagem foram distribuídas em outros eventos sem a minha autorização. Novamente agi com diligência e de forma tempestiva para evitar o uso indevido de minha imagem. Imediatamente, em 26 de outubro de 2021, enviei ofício desautorizando esse tipo de distribuição”, escreveu.