A soldado Jéssica Paulo do Nascimento, de 28 anos, ingressou na Polícia Militar em 2013 conquistando um sonho de infância e hoje considera pedir exoneração da corporação por não se sentir segura diante de um superior. A policial, que trabalha na cidade de Praia Grande, no litoral de São Paulo, denunciou o tenente-coronel que chefiava o 50º Batalhão da Polícia Militar, para o qual ela foi alocada no início de carreira, na Zona Sul da capital, no ano de 2018. Na época, Jéssica conheceu o tenente, que teria feito uma série de investidas para sair com ela e, após receber uma negativa por parte da soldado, teria começado a “persegui-la” com mensagens e sabotá-la dentro da corporação. Por causa disso, ela passou a ter acompanhamento psicológico e pediu um afastamento não-remunerado de dois anos do cargo que ocupava.
Em 2021, com o término da licença, ela precisou reencontrar o superior para pedir transferência para outro batalhão em uma cidade do litoral paulista. Por causa desse contato profissional, os assédios por parte do tenente-coronel teriam voltado a acontecer. “Ela fez contato com a secretária dele e perguntou se poderia, eventualmente, conversar com ele para ele dar o aval para que ela fosse movimentada para o litoral. Ele conseguiu o telefone dela e é aí que a parte dois do inferno dela começa, porque ele começa a assediá-la”, afirma o advogado de defesa da soldado, Sidnei Henrique. Em entrevista à Jovem Pan, o jurista detalhou o conteúdo das mensagens recebidas por Jéssica ao longo dos dias. Com a justificativa de entregar um documento que formalizaria a troca dela de batalhão, o policial combinou um encontro com a soldado em um feriado. Jéssica questionou se a delegacia estaria funcionando normalmente neste dia e o policial afirmou que “só eu vou funcionar”. Em outro momento o superior teria mandado a mensagem: “Vou te estuprar, carioca fogaça”.
No dia em que o tenente-coronel solicitou que a soldado fosse até uma estação de metrô na Zona Sul da capital para que eles seguissem até um hotel, Jéssica decidiu denunciar o superior à corregedoria da PM, que abriu um inquérito e convocou os envolvidos na denúncia para depor. Em áudios disponibilizados pela defesa da soldado à polícia, é possível ouvir que o superior hierárquico de Jéssica se identifica diversas vezes como “tenente-coronel Novaes”, diz que tem amigos no alto escalão da polícia e fala até mesmo que a mulher “não vai querer ser inimiga” dele. Em tom de ameaça, ele afirmou, ainda, que teria contatos no Tribunal de Justiça Militar, que deve acompanhar o caso. “Depois no TJM com o desembargador o bicho vai pegar. Eu não tenho medo de nada. O medo é um sentimento superior. Eu tenho cautela e precaução. Cuidado que você vai perder o seu dinheiro e vai se f**** ainda”, diz outro áudio.
Fonte: Jovem Pan