Pressionado em diversas frentes, Alcolumbre acumula desgastes por sabatina de Mendonça, mas não dá indícios de que irá recuar

Indicação do ex-AGU André Mendonça foi formalizada no dia 13 de julho

Se a temperatura nos bastidores de Brasília nesta semana foi elevada, um personagem teve participação decisiva para este clima: o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, cabe a ele escolher uma data para a sabatina do ex-advogado-geral da União André Mendonça, o “terrivelmente evangélico” indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga do ministro Marco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal (STF). Na mesma semana em que o nome do pastor presbiteriano completou três meses na gaveta, o parlamentar do DEM se viu pressionado em diversas frentes, inclusive por aqueles que o apoiaram em 2019, quando, aos 41 anos, foi alçado ao posto de presidente da Casa e do Congresso Nacional.

André Mendonça foi indicado por Bolsonaro no dia 13 de julho. Desde então, a sabatina não foi agendada por vários motivos. Enquanto o chefe do Executivo federal fazia ataques a ministros do STF, em especial Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, Alcolumbre dizia a aliados que não havia clima para o Senado sabatinar um escolhido pelo Planalto à Corte. No dia 7 de setembro, em discurso a apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo, o presidente da República chamou Moraes de “canalha” e declarou que não cumpriria decisões judiciais do magistrado. Como consequência, o comandante da CCJ avisou senadores governistas que não marcaria a sessão do colegiado. Dias depois, o mandatário do país recuou e divulgou uma carta à nação, na qual afirmou que não teve a intenção de agredir nenhum Poder da República. Desde então, o clima de crise institucional arrefeceu, mas nada ocorreu. Quem acompanha de perto as articulações garante: escanteado desde que deixou o comando do Senado, o parlamentar utiliza o posto que ocupa atualmente para se vingar do Palácio do Planalto e tentar emplacar um nome de sua preferência, como o procurador-geral da República, Augusto Aras. Para isso, disse à Jovem Pan um líder partidário, Alcolumbre estaria disposto a segurar a sabatina até 2023.

Desgaste no Parlamento 

No dia 2 de fevereiro de 2019, depois de um processo conturbado, Alcolumbre foi eleito presidente do Senado. Em seu discurso na tribuna do Senado, o parlamentar se apresentou como alguém capaz de “quebrar o círculo vicioso que corrompe a nossa democracia”. “Devemos ser a voz da República, e a República é o povo brasileiro. E o povo clama por um novo modelo de fazer política: mais democrático, mais igualitário e com ampla participação cidadã. Temos que reconquistar nossa imagem pelo exemplo, que vale muito mais do que palavras”, disse. “Esta é a hora em que podemos nos libertar das amarras que nos prendem a formas ultrapassadas e injustas da velha política”, acrescentou. Naquela ocasião, apesar do voto secreto, boa parte dos 42 senadores que o apoiaram fizeram questão de divulgar que haviam escolhido o parlamentar amapaense. Foram os casos, por exemplo, de Jorge Kajuru (Podemos-GO), Simone Tebet (MDB-MS), Eduardo Girão (Podemos-CE), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Alvaro Dias (Podemos-PR).

Dois anos e oito meses depois, Alcolumbre acumula insatisfações por segurar o nome de André Mendonça. Em uma sessão da CCJ, o senador Alessandro Vieira pediu que o ex-presidente do Senado citasse quais as “razões republicanas” pelas quais a sabatina de Mendonça não era agendada. À Jovem Pan, o senador Alvaro Dias disse que o amapaense age como “ditador” e coloca em xeque a respeitabilidade da Casa. Em seu perfil no Twitter, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que em 2019 abriu mão de sua candidatura para apoiar Alcolumbre, escreveu que “o atraso injustificado, sem motivação, caracteriza abuso de poder”. Mas a pressão não vem apenas do Parlamento. O pastor Silas Malafaia, uma das lideranças evangélicas mais engajados pela aprovação de Mendonça, divulgou um vídeo, na sexta-feira, 8, chamando o parlamentar do DEM de “inescrupuloso”. Nas redes sociais, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro subiram a hashtag #AlcolumbreDesempregado2023 – se não for reeleito no ano que vem, Alcolumbre ficará sem mandato a partir de 2023. Apesar das críticas, o senador se mostra irredutível. Em nota divulgada na quarta-feira, 13, ele afirmou que não aceitará “ser ameaçado, intimidado, perseguido ou chantageado com o aval ou a participação de quem quer que seja”. Enquanto isso, com dez ministros, o Supremo Tribunal Federal permanece desfalcado.


Fonte: Jovem Pan

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