Em depoimento à CPI da Covid-19, a advogada Bruna Morato, que defende 12 médicos e ex-médicos da Prevent Senior que elaboraram um dossiê com denúncias sobre as práticas da empresa, afirmou, nesta terça-feira, 28, que a direção da operadora de saúde procurou o “gabinete paralelo” e o Ministério da Economia para elaborar um “pacto” anti-lockdown que não prejudicasse a situação econômica do país. “Segundo informações que os meus clientes me repassaram, o Pedro Batista Júnior foi informado de que existia um conjunto de médicos assessorando o governo federal que tinha conexão com as ideias defendidas pelo Ministério da Economia. Existia um plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo”, disse a depoente. A primeira tentativa de aproximação teria como alvo o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. De acordo com a advogada, porém, o titular da pasta, que deixou o cargo em abril de 2020, “não deu essa abertura”.
No dia 31 de março do ano passado, Mandetta criticou, em coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, o Sancta Maggiore, que pertence à operadora. Ele afirmou que havia uma taxa alta de mortes de idosos no hospital, acrescentando que estudava a possibilidade de realizar uma intervenção nas unidades da empresa. O ministro deixou o Ministério da Saúde no dia 16 de abril, envolto em discordâncias com o presidente Jair Bolsonaro, dentre as quais relacionadas, justamente, ao “tratamento precoce”. Os médicos responsáveis pela interlocução entre a Prevent e o governo federal, disse Bruna Morato, eram Nise Yamaguchi e Anthony Wong, além do virologista Paolo Zanotto. Os três são apontados como principais integrantes do gabinete paralelo. Zanotto, inclusive, sugeriu ao presidente da República que o Palácio do Planalto criasse um “shadow cabinet” (gabinete das sombras, em tradução livre). “Havia um alinhamento ideológico porque diziam que a economia não podia parar. Eles [o governo] tinham que conceder esperança para que as pessoas pudessem sair às ruas. E essa esperança tinha nome: hidroxicloroquina”, afirmou a advogada.
Na oitiva, Bruna Morato também afirmou que os médicos da Prevent Senior não tinham autonomia para trabalhar. A afirmação representa um contraponto ao que foi dito, na semana passada, por Pedro Batista Júnior, diretor-executivo da operadora. De acordo com o dossiê enviado à CPI, ao qual a Jovem Pan teve acesso, a orientação partia da cúpula da empresa. “Pessoal, boa noite. Bom plantão a todos e enfatizo a importância da prescrição da flutamida 250mg para todos os pacientes que internarem. Estamos muito animados com a melhora dos pacientes. Obrigado a todos”, escreveu o médico cardiologista Rodrigo Esper, da Prevent, em um grupo de WhatsApp. A advogada também destacou que os pacientes não sabiam que seriam feitos de “cobaias”. “O médico falava para o paciente idoso que tinha um tratamento bom e que ia começar”. Diziam: ‘Se você quiser participar desse tratamento, precisa do ok’. Mas eles não sabiam que seriam feitos de cobaia”, relatou. Responsável por receber o dossiê contra a Prevent, o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que o depoimento da advogada foi “devastador” e “demolidor”. “Vossa senhoria está fazendo um bem ao Brasil e à saúde pública desse país. A senhora e os médicos que a escolheram como patrona desta causa. Eu tenho esperança e certeza de que nós não vamos deixar isso impune”, avaliou o petista.
Fonte: Jovem Pan