Aos 73 anos com o pique de um menino e muito fôlego pra correr 15 quilômetros. É assim que o barbeiro Laerte Pereira encara, há 53 anos, a Corrida Internacional de São Silvestre. Foram inúmeros Réveillons com shorts, tênis e camiseta — essa tradição é desde os tempos em que a prova era disputada na Virada de Ano. “Muito Ano Novo correndo, de passar de 31 de dezembro para 1º de janeiro sem tomar banho, suado.” O seu Laerte não quer nem ouvir falar em sedentarismo. Ele alia os treinamentos ao trabalho na barbearia e conta que, a cada dia 31 de dezembro, a emoção é renovada pelas ruas de São Paulo. “Quando cruza a linha de chegada a emoção já engasga, não dá nem para comentar, dá a impressão que é a primeira. A emoção contamina a gente, contagia.”
Porém, 2020 frustrou as expectativas não só do seu Laerte — mas de muita gente que costuma vir dos lugares mais longínquos do Brasil e do mundo para a prova. A empresária mineira Valeska Figueiredo mora em Poços de Caldas e começou com o esporte depois que descobriu que tinha lúpus e artrite. Ela diz que a corrida ajuda a enfrentar as doenças e que estava entusiasmada e preparada para fazer sua estreia — quando viu seus planos irem por água abaixo com a suspensão desta edição devido a pandemia do coronavírus. “Eu falei: ‘Vou fechar o ano com a tão sonhada São Silvestre’, que todo ano a gente estava adiando.” Esse ano não haverá aquela ansiedade gostosa entre os milhares de corredores que aguardam a sonora buzina que dá o sinal da largada no MASP. E nem mesmo o gostinho de cruzar a linha de chegada em frente à Fundação Cásper Libero em uma sensação indescritível. Uma mistura de alegria, choro, riso e até dor. Dessa vez tudo isso dará lugar ao silêncio e distanciamento.”
Fonte: Jovem Pan