Saiba por que a variante indiana do coronavírus é tão temida

Em completo caos funerário e sanitário, com corpos de vítimas da Covid-19 abandonados no rio Ganges e depois resgatados por rede, Índia adotou uso de fogueiras para cremação em massa

Prestes a completar um ano e meio do primeiro caso da Covid-19, avanço mundial da doença continua preocupando autoridades de saúde e trazendo desafios para o enfrentamento da pandemia. Desde 31 de dezembro de 2019, quando foram anunciados os registros iniciais do SARS-COV-2 na China, mais de 1.770 novas cepas do vírus já foram identificadas por pesquisadores de todo o mundo, aponta mapeamento de linhagens Pangolin, desenvolvido pelo Centro de Vigilância de Patógenos Genômicos de South Cambridgeshire, na Inglaterra. Segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ao menos 92 cepas do coronavírus já transitavam pelo Brasil até abril deste ano, entre elas as três variantes até então consideradas “de preocupação global”: do Reino Unido (B.1.1.7), da África do Sul (B.1.351) e a P.1, de Manaus. Agora, com a identificação da variante indiana, considerada mais transmissível e “agressiva” pelos cientistas, autoridades de saúde, lideranças políticas e a própria ciência enfrentam um novo desafio: como evitar a transmissão da nova cepa e inibir as replicações virais? 

A nova cepa do coronavírus, identificada como B.1.617 e popularmente conhecida como variante indiana, pela sua origem, é apontada como a principal responsável da explosão de casos e — óbitos — da Covid-19 na Índia. O país registrou, entre abril e maio, seguidos recordes diários de infecções e mortes pelo coronavírus, chegando a contabilizar mais de 412 mil registros da doença em um dia. Esse avanço, combinado com a falta de medidas sanitárias para conter a transmissão do SARS-COV-2, levou à sobrecarga de crematórios e cemitérios. Em completo caos funerário e sanitário, com corpos de vítimas da Covid-19 sendo resgatados por redes do rio Ganges, onde são abandonados, o país adotou uso de fogueiras para cremação em massa. Os números demonstram a grave situação no país ainda persiste. Em 4 de maio, a Índia ultrapassou a marca de 20 milhões de casos da Covid-19. Segundo a Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, 23 dias depois o território soma mais de 27,5 milhões de infecções, aumento de 7,5 milhões de diagnósticos positivos, o que representa média de 326 mil registros da doença confirmados por dia.

Nesse contexto preocupante, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou, em 10 de maio, a nova cepa do coronavírus como uma “variante de preocupação global”, com indicação de uma “transmissibilidade acentuada”, apontou Maria Van Kerkhove, autoridade técnica da organização. De acordo com a entidade, além da Índia, outros 52 países e territórios já registraram casos da variante indiana, incluindo o Brasil, que teve os primeiros registros da mutação em 19 de março, quando o Maranhão confirmou seis casos da nova cepa em parte da tripulação do navio Mv Shandong da Zhi, que está ancorado no Estado. Desde então, o Rio de Janeiro também já confirmou diagnóstico da variante indiana em um passageiro vindo de São Paulo, enquanto Estados como Ceará, Pará, Minas Gerais investigam possíveis registros.

Por que a variante indiana é tão preocupante?

A coordenadora do departamento científico de imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, Lorena de Castro Diniz, explica que a nova variante do coronavírus é tão temida pela sua característica de garantir maior transmissibilidade do vírus. A exemplo da Índia, que enfrentou seguidos recordes de casos e mortes pela Covid-19, a especialista afirma que a nova mutação permite maior facilidade de replicação e torna o SARS-COV-2 “mais virulento”.  “As variantes de relevância clínicas são aquelas que têm alterações no sequenciamento na região de RDB, que é onde há ligação do vírus com a célula. Quando há mutação nessa região, ocorre do vírus ficar mais facilmente transmissível, ele consegue aderir às células de mais pessoas e às vezes mais virulento. Isto, é, vai trazer uma doença mais invasiva, mais forte, com sintomas mais fortes”, detalha.

Diante dessa preocupação, Estados e municípios brasileiros começam a anunciar novos protocolos e barreiras sanitárias para mapear possíveis casos da mutação. Na cidade de São Paulo, por exemplo, passageiros vindos do Maranhão passam por triagem médica na rodoviária do Tietê e no Aeroporto de Congonhas, onde há medicação de temperatura e testagem de pessoas com sintomas da doença. Mesmo com as medidas adotadas, Lorena de Castro ressalta que os protocolos, no entanto, não incluem o fechamento de fronteiras e deixam descobertos possíveis passageiros que estejam infectados e sejam assintomáticos. “Ainda não sabemos como vai ser o comportamento da variante aqui, já que as medidas sanitárias estão sendo mais obedecidas. Essa transmissão do vírus também é dependente do comportamento da população, do clima e do organismo da próxima pessoa. Então, a gente vê agora qual o nível de transmissão no Brasil”, disse, ressaltando a necessidade de maior controle da pandemia. “Tem que isolar [a nova cepa] para tentar segurar a circulação.”


Fonte: Jovem Pan

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