Cerca de 19 milhões de brasileiros passaram fome no fim de 2020. É o que revelam os dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgados nesta semana. De acordo com a pesquisa, mais da metade da população brasileira – ou seja, 55% dos domicílios -conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final do ano passado e 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave. A casa de João Jesus Santos é uma delas. Sem fonte de renda, ele põe comida na mesa com o trabalho voluntário que faz na horta da comunidade onde mora, em São Paulo, e com o que recebe de doação. O pouco que tem, além de dividir com a esposa, também envia para as duas filhas, que moram longe e também passam dificuldades. “Meu sustento está saindo daqui. Estou desemprego, sou casado, a minha mulher faz uns bicos, parou de fazer porque na pandemia não pode mais, então praticamente o sustento está saindo daqui da horta. Alface, tempero, essas coisas, cesta básica que vem está ajudando bastante.”
Na casa da Marcileide Sousa de Andrade não é diferente. Para conseguir comer, ela e o marido também estão trabalhando como voluntários na plantação. “Aqui tem sido a grande ajuda, porque é daqui que a gente tem tirado o sustento. É das cestas que vem de doação, é do que sai aqui da horta. É daqui que a gente tem tirado alimento”, conta. Esse é o cenário de Vila Nova Esperança, na Zona Oeste de São Paulo. Cerca de 3 mil pessoas dependem da produção da Horta Popular e de doações de cestas básicas para sobreviver. A dona da horta é Maria de Lourdes Andrade Silva, a Lia. Líder comunitária de Vila Nova Esperança desde 2010, ela conta que, no ano passado, chegou a tirar mil quilos de alimentos do local por mês, o suficiente para produzir 70 marmitas por dia. Foi assim que ela ajudou a alimentar a comunidade durante a pandemia e o plano é continuar em 2021.
Apesar dos esforços, Lia explica que apenas a horta não é suficiente; eles também precisam do que vem dentro das cestas básicas. “A nossa ideia agora é cada vez mais expandir essa horta, porque a gente sabe que estamos em um momento de muita fome e o que fizemos? Plantamos bastante mandioca, plantamos bastante batata doce e nós logo logo vamos estar colhendo bastante batata doce e bastante mandioca e vai ajudar na alimentação da comunidade. A horta a gente tira legumes, a gente vai ter as hortaliças, mas não tem o feijão, o óleo. Além da horta, a gente precisa de cesta básica, então as comunidades é onde estão as pessoas que mais precisam”, afirmou, reforçando que as doações são ainda mais necessárias neste ano com a diminuição do auxílio emergencial. O apoio financeiro que ela recebeu em 2020 para a produção das marmitas também já terminou. Além dos itens da cesta básica, a líder da comunidade também afirma que faltam medicamentos.
*Com informações da repórter Beatriz Manfredini