As equipes de buscas e resgates iniciam o sexto dia de trabalhos em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. A cidade foi atingida por fortes chuvas na terça-feira, 15, que levaram um “cenário de guerra” ao município: carros foram arrastados, árvores caídas, há inundações das principais vias públicas, alagamentos, imóveis soterrados e ao menos 642 pontos de deslizamentos de terra. Ao todo, 152 corpos já foram localizados e outras 165 pessoas permanecem desaparecidas. Para este domingo, 20, a expectativa é de continuidade das busca. No entanto, moradores alertam para a falta de equipamentos e de máquinas, que dificultam das operações e ampliam a dor das famílias, que aguardam a dias pelo resgate de parentes soterrados. “Não tem ferramenta. A gente precisa de uma motosserra para poder tirar as árvores e não consegue. O trator que tinha que vir para escavar dizem que não tem disponível. Está muito difícil. Eles ficam aqui dias e noites e não conseguem. Já estamos cansados. Eles estão cortando árvores no machado, tirando barro com a mão, com balde”, relata Dona Alcione, em entrevista à Jovem Pan News.
Alcione acompanha as ações para busca e resgate de Beatriz, sua filha de criação, e de outras três pessoas que estavam em uma residência no bairro Alto da Serra, um dos mais castigados no município. Ela afirma que pela demora e dificuldade para as ações de resgate, não há mais esperanças de encontrar sobreviventes. “Vim para cá para pelo menos dar um enterro digno para a minha filha, mas não tem ferramentas, não tem como eles trabalharem. É uma dor que a gente não sabe descrever. Eu perdi um pedaço de mim, era um amor muito grande. Pelo tempo não dá [para encontrar sobreviventes]. A gente não espera mais vida, mas a gente quer tirar nossos parentes, poder enterrar. Mas está muito difícil chegar, é muito barro”, disse.
Um documento do Corpo de Bombeiros, assinado pelo diretor-geral de Apoio Logístico, Márcio Luís Silva Inocêncio na quinta-feira, 17, e divulgado pelo G1, traz uma solicitação ao Governo do Rio de Janeiro itens extra para atuação emergencial em Petrópolis, como capacetes, óculos de proteção, máscaras PFF2, lanternas, enxadas, pás, machados, galochas e baldes. No entanto, a corporação nega que falte equipamentos. Ao ser questionado sobre a indisponibilidade de materiais de proteção aos voluntários que atuam na região, o secretário-geral de Defesa Civil do Rio de Janeiro, coronel Leandro Monteiro, afirmou que não há baixo estoque. “Todos os bombeiros militares recebem equipamento de proteção individual. Não existe falta de material, mas esses equipamentos são para os bombeiros do Rio de Janeiro e de outros Estados que estão dando suporte. Não posso liberar equipamentos adquiridos pelo Tesouro Nacional para voluntários disponíveis. Eles são utilizados pelo Corpo de Bombeiros”, afirmou o coronel, que completa: “Estamos em busca de pessoas vivas. Os bombeiros acreditam.”
Neste sábado, a Defesa Civil voltou a acionar sirenes para alertar sobre a possibilidade de uma forte chuva. Mensagens de texto também foram enviadas a moradores. “As condições do tempo favorecem a ocorrência de pancadas de chuva moderada a forte, para as próximas horas”, dizia nota da corporação. Neste domingo, a previsão é de chuvas intensas na cidade, o que também pode dificultar as ações na região. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alerta para chuva entre 20 e 30 mm/h ou até 50 mm/dia, ventos intensos (40-60 km/h), com baixo risco de corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores, alagamentos e de descargas elétricas. O último boletim meteorológico divulgado pela Defesa Civil municipal fala em “condições de tempo instáveis” com pancadas de chuva moderada e forte no período da tarde e da noite. Para a segunda-feira, a previsão é de chuva fraca.