Em meio às discussões sobre a terceira onda da pandemia e o surgimento de novas cepas do coronavírus, especialistas começam a analisar, na prática, a eficácia das vacinas contra a Covid-19, bem como os possíveis efeitos colaterais. Nesse contexto, parte da comunidade médica internacional debate o modelo de aplicação da vacina da Janssen, que pertence ao grupo Johnson & Johnson. Os profissionais da saúde questionam a imunização criada a partir da dosagem única e propõem reforço vacinal com a combinação de uma segunda dose de outro imunizante. Essa discussão sobre a eficácia da vacina “no mundo real” surge, especialmente, por causa do avanço da variante Delta, também conhecida como variante indiana, que conta com mutações na proteína “S” do vírus e coloca em risco a capacidade de proteção dos imunizantes, explica a imunologista Dra. Lorena Castro. “As variantes de preocupação fazem alteração justamente nessa proteína, que liga o vírus com as nossas células. As vacinas foram desenvolvidas para não deixar que o vírus entre e se multiplique. Só que, com as novas variantes, as vacinas feitas com a proteína spike perderam a eficácia porque o vírus começou a encontrar maneiras de burlar o sistema imunológico.”
Nesta quinta-feira, 1º, a Janssen informou que a vacina desenvolvida pelo laboratório neutraliza a cepa indiana com uma única aplicação. No mesmo dia, a chefe do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul, Glenda Grey, anunciou que estudo feito no país também comprova a eficácia do composto contra a variante Delta. “Vemos uma durabilidade surpreendente na resposta imune de uma única dose por até oito meses”, afirmou. Apesar dos resultados positivos, médicos continuam defendendo a utilização de um reforço. Entre os apoiadores da proposta está a virologista Angela Rasmussen, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá. Nas redes sociais, a pesquisadora chegou a afirmar que foi vacinada com o imunizante da Janssen em abril e recebeu uma dose da Pfizer em junho. O motivo para a escolha da vacina usada como reforço, além da disponibilidade no país, seria a metodologia diferente. Por ser produzida a partir do RNA mensageiro, produto da Pfizer completaria corretamente o esquema de imunização. Embora ainda não existam recomendações da farmacêutica a respeito do assunto, a especialista afirma que “é provável que dê certo, considerando que os reforços funcionam para quase todas as outras vacinas”. E indica o reforço vacinal: “Não podemos descartar cenários em que ele possa ser benéfico, especialmente em lugares onde a comunidade não está totalmente vacinada”, disse, em menção aos resultados do estudo.
Outra especialista que defende a adoção de uma dose extra após a imunização com a vacina da Janssen é a infectologista Céline Gounder, professora na Universidade de Nova York. Assim como Angela Rasmussen, a médica afirma que, considerando o avanço da variante Delta, recomendaria uma segunda aplicação com vacinas de RNA mensageiro (como a Pfizer e a Moderna) para idosos, imunossuprimidos e pessoas com comorbidades como diabetes ou doenças cardiovasculares. A grande preocupação, segundo a especialista, é com o avanço da cepa originária da Índia em locais como os Estados Unidos e o Reino Unido. Mais infecciosa, a mutação pode “escapar da resposta imunológica às variantes mais antigas”, aumentando os casos de reinfecção e de transmissão da doença por indivíduos já imunizados. “As vacinas Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson permanecem eficazes na prevenção de doenças graves e morte pela variante Delta, mas vemos queda significativa na eficácia geral com a vacina J&J contra a variante Delta”, explicou a infectologista.
Fonte: Jovem Pan