As discussões sobre a vacinação contra a Covid-19 no Brasil chegaram ao Supremo Tribunal Federal (STF), criaram um embate entre governadores e o presidente Jair Bolsonaro, e trouxeram grande expectativa na população em 2020. Em meio a um aumento de casos e mortes no País, o que fez com que várias regiões voltassem atrás na flexibilização das medidas restritivas contra o coronavírus, os brasileiros querem saber quando vai, de fato, começar a imunização e como ela será feita. Para especialistas, provavelmente teremos mais de uma vacina aprovada e sendo usada no País. Até agora, as farmacêuticas responsáveis pelos imunizantes da Aztrazeneca, desenvolvida em parceria com a Fiocruz, e dos laboratórios Pfizer e BioNTech, entregaram resultados de fase 3 para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No dia 23, o Instituto Butantan, de São Paulo, que produz a vacina em parceria com a Sinovac, adiou a apresentação dos resultados, pois a farmacêutica chinesa pediu que o parceiro brasileiro encaminhasse os dados para que eles sejam computados e apresentados de forma conjunta com testes realizados em outros países. Porém, o instituo afirma os testes da fase 3 alcançaram o nível exigido. A vacina da Janssen, da Johnson&Johnson, também realiza testes no País, porém ainda não entregou a documentação. “O que a gente espera é que o máximo de vacinas possam chegar ao Brasil. Com apenas um fabricante é muito pouco provável que a gente consiga vacinar muitas pessoas, que é o que mundo inteiro deseja. Começamos pelos grupos de maior risco, mas para que a gente possa se livrar da Covid-19, precisamos de um número maior de pessoas vacinadas”, diz a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai.
Já o infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, João Prats afirma que, se implementada rápido, a vacinação provavelmente vai evitar um aumento grande no número de casos. “Não é que nem o isolamento, que você só diminui o contato entre as pessoas suscetíveis. Não é que vai achatar a curva, a curva vai cair mesmo”, ressaltou. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse no último dia 22 que espera ter 15 milhões de doses da vacina de Oxford, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), disponíveis até o fim de janeiro. No dia 13 de dezembro, uma nova variante do coronavírus foi identificada no Reino Unido e, em 22 de dezembro, pesquisadores do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) encontraram uma nova mutação no Rio de Janeiro, que surgiu em julho e foi detectada pela primeira vez em outubro. A principal preocupação da população mundial é qual o impacto que a nova variante terá na produção de vacinas contra a Covid-19. A Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, já se manifestou afirmando que não existem evidências de que a variação cause uma infecção mais grave ou afete a eficácia dos imunizantes já desenvolvidos. “A mutação não é motivo de preocupação para a vacina, é motivo de preocupação a curto prazo por conta da transmissão da doença”, diz o doutor em virologia e professor adjunto da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Maurício Lacerda Nogueira. “O aparecimento de novas cepas é um fenômeno natural com pouquíssimo impacto, se é que tem algum, nas vacinas. São mutações muito pontuais que não afetam a resposta dos nossos imunizantes. Então, isso não é motivo de preocupação para a vacina”, continua. O professor ressalta que, apesar de cada vacina ter uma tecnologia diferente e ter suas vantagens e desvantagens, esse tipo de mutação pontual e considerada natural não afeta nenhum dos imunizantes desenvolvidos em um primeiro momento.