‘Vou morrer de fome? Não é luxo, eu preciso trabalhar’, diz organizador de festa clandestina preso em SP

O organizador de eventos Rafael Correia em publicação compartilhada no Instagram em 26 de janeiro: 'Obrigado, meu Deus, por esse dom'

Aglomerações, pessoas sem máscaras e completa ausência de protocolos sanitários. Foi neste cenário que o organizador de eventos Rafael Correia acabou preso na madrugada do sábado, 6, durante uma festa clandestina na capital paulista. “Parece que a polícia de São Paulo inteira estava lá”, disse o influenciador em entrevista exclusiva à Jovem Pan. A detenção de Correia aconteceu durante um dos mais de 280 eventos já interrompidos por equipes de segurança do governo do Estado de São Paulo desde 26 de fevereiro. Conhecida como “Essence Circus”, a festividade proibida ganhou repercussão nas redes sociais após denúncia do deputado federal Alexandre Frota, que procurou a Polícia Civil para inibir o evento. Com as denúncias da festa, que anunciava uma “megaprodução” e a comemoração do aniversário de Rafael, agentes do Garra Dope e também do GER, grupos de elite da polícia, interromperam o convescote, que acontecia na Zona Leste de São Paulo. Agora, Rafael é acusado criminalmente por “infringir determinação do poder público, destinada a impedir propagação de doença contagiosa”. Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, o organizador de eventos também pode responder por associação criminosa e associação ao tráfico de drogas, o que ele nega. “Estão falando que sou associado ao tráfico de drogas, que o evento só mata, que estamos espalhando o vírus. Tá bom, mas quem vai pagar a minha conta de água? Ninguém pegou droga da minha mão, se fizerem um exame de sangue não vai constar. Eu não bebo, não sou usuário, não sou vendedor, não tenho associação com o tráfico”, afirmou o produtor de eventos, que assinou um termo circunstanciado e foi liberado, enquanto aguarda as investigações do caso. Ele nega ter participado diretamente da organização da festa, embora reconheça que recebeu R$ 400 para divulgá-la. O encontro causou a concentração de mais de 200 pessoas – estimava-se mais de 1.500.

Neste momento, considerado um dos piores da pandemia no Brasil, a principal crítica – e preocupação – das autoridades acontece, justamente, pelas aglomerações nos eventos proibidos, que desrespeitam indicações sanitárias do Plano São Paulo, como o distanciamento social e uso obrigatório de máscara de proteção. Profissionais da saúde defendem que a proibição de locais com concentração de pessoas busca reduzir as taxas de transmissão do coronavírus e, com isso, salvar vidas. No entanto, para Rafael Correa, as medidas restritivas se mostram, nesse momento, ineficazes, considerando os ininterruptos avanços da Covid-19. E, segundo ele, a realização dos eventos, que garantem a renda de dezenas de famílias, também é uma forma de “salvar vidas”. “Só está sendo colocado que as vidas são salvas do vírus, mas a gente tem que pagar a conta. A gente paga água, luz, gás, aluguel, IPTU, IPVA, prestação de carro. Tudo a gente paga. A vida depende do trabalho para ser mantida. Eu vou morrer de fome? Quem vai me sustentar?”

Rafael Correia, que vive com a mãe na capital paulista, diz que também teve receio de ser infectado pelo coronavírus no início da pandemia. Mas, agora, ele questiona os “números superestimados” de mortes pela Covid-19 e defende o retorno do setor de eventos por necessidade. Ele afirma que defenderia a retomada das atividades mesmo se tivesse perdido um familiar vítima da doença. “Os números não são verdadeiros, porque conheço pessoas próximas a mim que morreram de outras causas e colocaram Covid-19. Eu trabalho sozinho, não tenho a quem recorrer para pagar conta de luz, alimentação, imposto. No começo fiquei com medo. Não é que eu queira trabalhar, eu preciso trabalhar, eu tenho que trabalhar. É necessidade. Não se trata mais de luxo, de ego, de egocentrismo. É preciso. Eu preciso trabalhar.


Fonte: Jovem Pan

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