A pouco menos de um ano da eleição, o cenário eleitoral ainda é nebuloso. Enquanto as pesquisas de intenção de voto indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida pelo Palácio do Planalto, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro, que polarizou com o PT no último pleito, diversos partidos políticos tentam viabilizar um nome para a chamada terceira via. No início do mês de novembro, o ex-juiz federal Sergio Moro se filiou ao Podemos e se apresentou como pré-candidato. Neste domingo, 21, ocorrem as prévias do PSDB, que escolherá o candidato tucano em uma disputa centralizada entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Outros nomes também já foram colocados, casos do ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PDT), do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). O MDB, por sua vez, ensaia lançar a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Os pré-candidatos da dita terceira via admitem que a pulverização de postulantes é um empecilho, mas afirmam que este é o momento de apresentar nomes e propostas. O cenário, avaliam, será amadurecido até o fim do primeiro trimestre do ano que vem, quando deve haver um filtro nas candidaturas. A Jovem Pan preparou uma lista com os principais nomes da disputa e apresenta as articulações que têm sido feitas pelas cúpulas partidárias visando as eleições de outubro de 2022.
Jair Bolsonaro: depois de anunciar que estava “namorando” com três partidos do Centrão (PP, PL e Republicanos), o atual presidente da República deve se filiar ao PL, de Valdemar Costa Neto. Como a Jovem Pan tem noticiado, a filiação só deve ocorrer quando a legenda superar entraves para a composição de palanques em alguns Estados, como São Paulo, Piauí e Pernambuco. Com a eventual ida do mandatário do país para o Partido Liberal, aliados trabalham para que o Partido Progressistas (PP) indique o vice para chapa – nas últimas semanas, foram aventados os nomes dos ministros da Comunicação, Fábio Faria, e da Casa Civil, Ciro Nogueira. O entorno presidencial entende que, ao se filiar ao PL e atrair o PP para a chapa, Bolsonaro terá uma base de apoio mais sólida no Congresso em um eventual segundo governo. Em paralelo, o chefe do Executivo federal considera que é fundamental eleger o maior número de aliados para o Senado, onde sua gestão tem acumulado derrotas. Diferentemente de 2018, quando focou sua campanha nas redes sociais, a ida de Bolsonaro para um partido robusto sinaliza a preocupação do Palácio do Planalto com o tempo de propaganda eleitoral na TV.
Luiz Inácio Lula da Silva: depois de recuperar os seus direitos políticos em razão de uma decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que anulou suas condenações no âmbito da Operação Lava Jato, Lula lidera as pesquisas de intenção de voto. Em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, segundo pesquisa Datafolha divulgada na segunda quinzena de setembro, o ex-presidente venceria por 56% a 31%. O petista concentra votos na centro-esquerda e na esquerda, tem em seu radar acordos com partidos como o PSB, o PSOL e o PCdoB, por exemplo, mas trabalha para ampliar seu arco de alianças. Em outubro, foi recebido pelo ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB) para um jantar – o ex-presidente tem bom trânsito com a velha guarda do MDB desde os tempos em que governou o país. Por fim, aliados tentam emplacar uma costura que alce Geraldo Alckmin, ainda filiado ao PSDB, ao posto de vice na chapa para outubro do ano que vem. Alckmin não rechaçou a possibilidade publicamente, mas como a Jovem Pan mostrou, aliados afirmam que o ex-governador “gosta de governar São Paulo”. Entre as siglas do Centrão, base de apoio do governo Bolsonaro, Lula mantém conversas com dirigentes do PL e do PP com trânsito na região Nordeste. Outra prioridade do PT é expandir a bancada do partido no Congresso Nacional.
Ciro Gomes: terceiro colocado na eleição de 2018, Ciro Gomes será novamente o candidato do PDT, de Carlos Lupi, à Presidência. O ex-ministro da Integração Nacional chegou a suspender a sua pré-candidatura após a maioria da bancada pedetista na Câmara dos Deputados votar a favor da PEC dos Precatórios no primeiro turno de votação. Com a reversão dos votos na segunda votação, Ciro retomou sua pré-campanha, que tem sido marcada por críticas aos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas: Lula e Bolsonaro. Em entrevistas e em publicações nas redes sociais, o pedetista costuma dizer que a corrupção nos governos petistas alimentou o sentimento antipolítica que resultou na onda bolsonarista de 2018 – o marketeiro do candidato do PDT é João Santana, ex-guru do PT. Nos últimos dias, Ciro Gomes também tem feito críticas ao ex-juiz Sergio Moro, a quem já chamou de “engodo”, “o político que fingia ser juiz” e “incompetente”.
Sergio Moro: o ex-juiz da Lava Jato mandou prender o ex-presidente Lula, se tornou ministro da Justiça do governo Bolsonaro, deixou a gestão acusando o presidente da República de tentar interferir politicamente na Polícia Federal, foi declarado parcial pelo Supremo Tribunal Federal e, no início de novembro, se filiou ao Podemos, presidido pela deputada federal Renata Abreu (SP). Como a Jovem Pan mostrou, aliados apostam que Moro será o candidato da terceira via mais competitivo pelo potencial de concentrar os votos de eleitores que rejeitam o PT, votaram em Bolsonaro em 2018, mas estão desapontados com a atual administração do país. Em seu discurso de filiação, ele afirmou que deixou o governo porque teve o seu trabalho “boicotado”, uma vez que “foi quebrada a promessa” de que o combate à corrupção seria uma das prioridades da gestão. “Chega de Petrolão, chega de Mensalão, chega de rachadinha, chega de Orçamento secreto”, disse em outro momento. O ex-ministro da Justiça tem sido questionado sobre outras propostas para o país, uma vez que sua imagem é estritamente ligada à pauta anticorrupção. Nesta semana, em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, o ex-ministro da Justiça disse que seu conselheiro econômico é o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Em dezembro, Moro fará uma incursão no Nordeste, reduto eleitoral de Lula, para promover o lançamento de seu livro “Contra o Sistema da Corrupção”.
Fonte: Jovem Pan