Os constantes avanços da Covid-19 nas últimas semanas, com novos aumentos de casos da doença e alta de ocupações das UTIs, acendem o alerta para a iminente terceira onda da pandemia no Brasil e suas consequências, especialmente para os grupos de risco do coronavírus, como as gestantes. Dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) apontam aumento de 79% na mortalidade materna pela doença no país em comparação com o ano passado. Até o dia 2 de junho deste ano, 814 gestantes morreram em decorrência de complicações da Covid-19. Em 2020, os registros chegavam a 455 óbitos. Uma análise mais aprofundada das informações mostra que no Estado de São Paulo, a média de notificações de mortes subiram de 1,7 mortes por semana em 2020 para 7,2 em 2021. No mesmo sentido, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado no último dia 5, também alertou para a alta taxa de letalidade da Covid-19 entre grávidas no Brasil, com índice de 7,2%. Ou seja, mais que o dobro da taxa geral no país, que é de 2,8%. A entidade considera a 33ª semana da gestação como o “período crítico”, com maiores chances de evoluir para quadros graves da doença, com descompensação respiratória e a necessidade de antecipar o parto.
Embora preocupante e significativo, o aumento de mortes maternas está longe de ser a única preocupação de médicos e gestantes. A obstetra Carla Iaconelli explica que, embora seja considerada uma doença pulmonar, a infecção pelo coronavírus também pode causar a chamada “síndrome pós-covid”, que tem entre os sintomas a fadiga, falta de ar, alteração de humor, problemas neurológicos e de memória, dor no corpo e fraqueza. Nas grávidas, a inflamação pode ainda levar a uma redução do líquido amniótico, à prematuridade, a complicações obstétricas, como o descolamento da placenta, e a casos de hipercoagulação sanguínea, causando quadros tromboembólicos. “Tudo isso pode piorar na gravidez, porque a mulher já tem baixa imunidade, uma anemia. A gestante também tem uma dificuldade da expansão pulmonar, por causa da pressão uterina. O pulmão dela não expande. É uma série de coisas que, somadas à Covid-19, pode levar ao final da gravidez, ao desfecho dessa gestação”, relata a médica. Segundo ela, a prematuridade está diretamente vinculada à gravidade da infecção pelo coronavírus. Em quadros graves, o índice de nascimento antes das 37 semanas chega a 75% dos casos. “Quando é uma Covid leve, que a paciente acaba internada, mas precisa só de oxigênio, não precisa ser intubada e não entra em choque, não aumenta muito [a prematuridade]. Então, isso tem relação com a gravidade da doença”, completa. Em casos leves da doença, a taxa de parto prematuro é de apenas 9%.
Assim como Carla Iaconelli, a presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo (SOGESP), Rossana Pulcineli Vieira Francisco, também alerta para o risco da prematuridade causada por quadros de Covid-19 materna. Ela explica que a maioria dos casos de antecipação do parto acontecem pela chamada “prematuridade terapêutica”, quando o nascimento é adiantado por indicação médica, não por consequência do coronavírus. “A prematuridade é sempre um problema muito grande, porque você tem vários órgãos que podem não ter o seu desenvolvimento de forma completa. Pode ter alterações de retina, a criança pode ter um risco maior de ter problemas intestinais. Então sempre que a gente faz um parto prematuro tem que pensar na possibilidade dessa criança não sobreviver ou, mesmo sobrevivendo, que ela tenha sequelas“, ressalta, citando a importância de que o parto antecipado não seja indicado “apenas porque a mãe testou positivo para a Covid-19”. “Que a pessoa consiga passar por essa doença e possa continuar com a gestação”, completou.
Fonte: Jovem Pan