As fortes chuvas que atingiram Petrópolis, cidade da Região Serrana do Rio de Janeiro, na terça-feira, 15, causaram mais de uma centena de mortos e desaparecidos. Entre tantos óbitos, houve quem conseguiu sobreviver às avalanches de lama por questão de segundos. É o caso de Rodrigo Kopke, de 48 anos, morador da rua Teresa, que teve parte da sua casa demolida pela enxurrada. O desenvolvedor de sistemas conseguiu se salvar por sair do seu quarto um minuto antes da terra atingir o cômodo em que estava. “Eu estava em casa, estou trabalhando em regime de home office. Estava pronto para deitar. Já tinha fechado a janela, ligado a TV, arrumado a cama, colocado a garrafinha de água na cabeceira e iria deitar para descansar e esperar a chuva passar. Foi quando resolvi sair para fumar. Estava tudo tremendo e comecei a escutar estalos. Achei que fossem pedras, mas era a casa. Olhei para o lado e o quarto cedeu. Em coisa de um minuto, se eu não levanto para fumar, eu tinha ido junto”, conta em entrevista à Jovem Pan.
Rodrigo está vivo, mas viu sua casa ser engolida pelo desastre da natureza. Desesperado, ele diz que, naquele momento, percebeu que vivia “um pesadelo”. O sobrevivente precisou pular muros para chegar a um local seguro. “As lajes estavam todas descendo. Tem um vizinho que mora em frente e o único jeito era arriscar e pular para o quintal dele. A água quase me levou, a enxurrada. Ali eu achava que tudo ia cair na minha cabeça. Pulei na água e fui para o quintal do vizinho. Nesse momento caíram mais quatro barreiras. Olhei para cima e tinha um bambuzal, comecei a subir. Eu e meu cunhado subimos, arrebentei alguns bambus e pulei no mato. Tive que pular em um bambuzal, depois pular duas casas e sair na rua Teresa. Foi um terror, um filme de terror”, relata, aflito, ao relembrar as cenas que viveu naquela terça.
O morador explica que a queda de lama ocorreu porque uma encosta que realizava a contenção de uma pedra, localizada no alto do morro, cedeu. Em um piscar de olhos, o lamaceiro escorreu pela rua Teresa até atingir o andar em que ele morava. Com o desastre, Rodrigo Kopke foi para a casa da noiva, localizada na rua Pedro Ivo, também em Petrópolis. No local, além do desenvolvedor de sistemas, estão outras oito pessoas. “Não consegui voltar [ao local]. Estouraram duas colunas embaixo. Uma na varanda e outra dentro do meu quarto. São três lajes e elas estão penduradas no meio do barro. Meu andar é o de baixo, minha irmã e minha sobrinha moram no andar de cima, mas eles não estavam em casa. Está praticamente condenada”, resume. À reportagem, o sobrevivente disse que está traumatizado e passou as duas últimas noites em claro. Segundo Rodrigo, assim que seus olhos fecham, as imagens da barreira cedendo e da enxurrada tomando parte de sua casa tomam conta de sua memória. “Vi a morte na minha frente, fiquei em choque, tinha tudo para não estar mais aqui neste momento”, finalizou.